quarta-feira, 23 de junho de 2010

A pipa e a flor


Um menino confeccionou uma pipa. Ele estava tão feliz, que desenhou nela um sorriso. Todos os dias, ele empinava a pipa alegremente. A pipa também se sentia feliz e, lá do alto, observava a paisagem e se divertia com as outras pipas que também voavam.
Um dia, durante o seu vôo, a pipa viu lá embaixo uma flor e ficou encantada, não com a beleza da flor, porque ela já havia visto outras mais belas, mas alguma coisa nos olhos da flor a havia enfeitiçado.
Resolveu, então, romper a linha que a prendia à mão do menino e dá-la para a flor segurar. Quanta felicidade ocorreu depois! A flor segurava a linha, a pipa voava; na volta, contava para a flor tudo o que vira.
Acontece que a flor começou a ficar com inveja e ciúme da pipa. Invejar é ficar infeliz com as coisas que os outros têm e nós não temos; ter ciúme é sofrer por perceber a felicidade do outro quando a gente não está perto.
A flor, por causa desses dois sentimentos, começou a pensar: se a pipa me amasse mesmo, não ficaria tão feliz longe de mim... Quando a pipa voltava de seu vôo, a flor não mais se mostrava feliz, estava sempre amargurada, querendo saber com quem a pipa estivera se divertindo.
A partir daí, a flor começou a encurtar a linha, não permitindo à pipa voar alto. Foi encurtando a linha, até que a pipa só podia mesmo sobrevoar a flor.
Esta história, segundo conta o autor, ainda não terminou e está acontecendo em algum lugar neste exato momento.
Há três finais possíveis para ela:
1 - A pipa, cansada pela atitude da flor, resolveu romper a linha e procurar uma mão menos egoísta.
2 - A pipa, mesmo triste com a atitude da flor, decidiu ficar, mas nunca mais sorriu.
3 - A flor, na verdade, era um ser encantado. O encantamento quebraria no dia em que ela visse a felicidade da pipa e não sentisse inveja nem ciúme.
Isso aconteceu num belo dia de sol: a flor se transformou numa linda borboleta e as duas voaram juntas
(* Rubem Alves, “A pipa e a flor”, 2003, Editora Loyola )

sexta-feira, 11 de junho de 2010

"Mas para ser justa, admito que as mulheres também devem ter adorado ver atriz perder o rumo. Continuar linda com quarenta anos, vivendo uma violenta paixão, rica e famosa – é demais para a inveja da gente. Se diante da queda de uma mulher irresistível os homens gozam por sua própria libertação (o desejo escraviza, certo?), as mulheres gozam a revanche de todas as invejas recalcadas. Vergonha para uns e outras, claro. A inveja e o ressentimento, já dizia Nietzsche – este filósofo detestável – são atributos dos fracos, dos escravos, que não ousam lutar por um lugar entre os deuses. Eu já não gosto muito desse papo de deuses, de seres superiores e inferiores, mas concordo com o pára-choques de caminhão: a inveja é uma merda. E quanto aos homens, por favor: tentem pelo menos estar à altura das mulheres que vocês desejam, em vez de ficar esperando a oportunidade triste de festejar a sua decadência."

Maria Rita Kehl

domingo, 6 de junho de 2010



"A saudade é a nossa alma dizendo para onde ela quer voltar"



"Amar é ter um pássaro pousado no dedo. Quem tem um pássaro pousado no dedo sabe que, a qualquer momento, ele pode voar”



"Mas nós somos como as lagartixas que perdem o rabo: logo um rabo novo cresce no lugar do velho. Assim é com a gente: logo a vida volta à normalidade e estamos prontos a amar de novo.A saudade doída passa a ser só uma dorzinha gostosa."


RUBEM ALVES

terça-feira, 1 de junho de 2010

As relações afetivas nos jogos da internet.

Jogos e sites possibilitam para o usuário criar infinitas formas diferentes de ser e de se expressar, incluindo também escolher as mais variadas características físicas e biotipos que lhe agradem.
Essa oferta pode parecer muito sedutora em um primeiro momento. Oferece a possibilidade de um universo em que cada pessoa pode imaginar e criar em outra realidade, sendo esta virtual, tudo aquilo que lhe for desejável.
O jogador, dessa maneira, pode viver um personagem que não se depara com as limitações e obstáculos da vida real e do seu cotidiano. É como se pudesse existir uma vida em que houvesse apenas prazer, o tempo todo.
Neste mundo de "faz-de-conta", é possível vivenciar inúmeros relacionamentos, marcando quantos encontros românticos seja possível desejar, assim como criar cenários onde os personagens são capazes de satisfazerem-se por completo.
Podemos pensar então, o que se espera alcançar ao se relacionar de maneira afetiva, sexual e/ou erótica no universo virtual. Será apenas diversão, entretenimento ou curiosidade? Ou será que pode haver também uma tentativa de se relacionar com outra pessoa apenas utilizando a imaginação.
Esta outra pessoa que, por estar nesse terreno virtual pode ser tomado como um ideal, vindo a ocupar ou a satisfazer alguns anseios que só um personagem pode proporcionar.
Quando dois personagens se relacionam em um mundo virtual consegue-se controlar a distância entre o personagem e o diretor da história inventada. Na maioria das vezes quem dirige prefere preservar sua identidade, fazendo-se anônimo neste momento.
Em uma relação que se dá no campo real não é possível de se encobrir por muito tempo sua individualidade e suas peculiaridades, em função da proximidade e intimidade com o par. Assim, quem dirige e atua na própria história terá que se implicar e se responsabilizar pelos atos cometidos e palavras ditas.
Por outro lado, quem nunca ouviu falar de casais que se conhecem, namoram e até casam pela internet? Temos conhecimentos que muitas dessas relações tornam-se presentes na vida real, passando a relações estáveis e duradouras.
O recurso da internet facilita a comunicação entre os parceiros, como também permite que o vínculo afetivo se dê com maior facilidade para algumas pessoas, ainda mais no caso da timidez aparecer.
O limite entre o uso desses jogos e sites de relacionamentos que despertam fantasias, e alguém que pode estar desenvolvendo um comportamento patológico (gerando dependência dessas relações virtuais), está na habilidade do internauta em não restringir sua vida social e afetiva somente a encontros e conversas que aconteçam apenas em frente à tela de um computador. (Ana Paula Dilger)




texto publicado em: http://www.portalmex.com.br/