terça-feira, 26 de abril de 2011

Crônica do amor

Ninguém ama outra pessoa pelas qualidades que ela tem, caso contrário os honestos, simpáticos e não fumantes teriam uma fila de pretendentes batendo a porta.

O amor não é chegado a fazer contas, não obedece à razão. O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar.

Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são só referenciais.

Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca.

Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera.

Você ama aquela petulante. Você escreveu dúzias de cartas que ela não respondeu, você deu flores que ela deixou a seco.

Você gosta de rock e ela de chorinho, você gosta de praia e ela tem alergia a sol, você abomina Natal e ela detesta o Ano Novo, nem no
ódio vocês combinam. Então?

Então, que ela tem um jeito de sorrir que o deixa imobilizado, o beijo dela é mais viciante do que LSD, você adora brigar com ela e ela adora implicar com você. Isso tem nome.

Você ama aquele cafajeste. Ele diz que vai e não liga, ele veste o primeiro trapo que encontra no armário. Ele não emplaca uma semana nos empregos, está sempre duro, e é meio galinha. Ele não tem a
menor vocação para príncipe encantado e ainda assim você não consegue despachá-lo.

Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito manteiga. Ele toca gaita na boca, adora animais e escreve poemas. Por que você ama
este cara?

Não pergunte pra mim; você é inteligente. Lê livros, revistas, jornais. Gosta dos filmes dos irmãos Coen e do Robert Altman, mas sabe que uma boa comédia romântica também tem seu valor.

É bonita. Seu cabelo nasceu para ser sacudido num comercial de xampu e seu corpo tem todas as curvas no lugar. Independente, emprego fixo, bom saldo no banco. Gosta de viajar, de música, tem loucura
por computador e seu fettucine ao pesto é imbatível.

Você tem bom humor, não pega no pé de ninguém e adora sexo. Com um currículo desse, criatura, por que está sem um amor?

Ah, o amor, essa raposa. Quem dera o amor não fosse um sentimento, mas uma equação matemática: eu linda + você inteligente = dois apaixonados.

Não funciona assim.

Amar não requer conhecimento prévio nem consulta ao SPC. Ama-se justamente pelo que o Amor tem de indefinível.

Honestos existem aos milhares, generosos têm às pencas, bons motoristas e bons pais de família, tá assim, ó!

Mas ninguém consegue ser do jeito que o amor da sua vida é! Pense nisso. Pedir é a maneira mais eficaz de merecer. É a contingência maior de quem precisa.

Arnaldo Jabur

sexta-feira, 22 de abril de 2011

O que faz um casal?


Para existir, um par precisa inventar e compartilhar uma longa aventura

AS HISTÓRIAS protagonizadas por um casal (sejam elas literárias, cinematográficas, teatrais ou televisivas) podem ser divididas em duas categorias. Há as histórias ditas "de amor", de "Cinderela" a "Romeu e Julieta". Na maioria dessas histórias, trata-se do primeiro encontro dos amantes e das dificuldades nas quais eles esbarram para se juntar. As coisas podem acabar mal ("Romeu e Julieta"), mas, quando acabam bem, a narração termina na hora em que os amantes começariam a "viver felizes para sempre" ("Cinderela"). Ou seja, quando o amor deveria ser o tema principal, o que é narrado são os transtornos iniciais (com mais ou menos meleca sentimental) ou, às vezes, o trágico desfecho. A prática cotidiana do amor é, em geral, apenas objeto de farsas e comédias: risível. A segunda categoria é a das histórias em que um casal vive uma aventura que, aparentemente, não tem nada a ver com seu amor: procuram juntos desvendar um crime, assaltar um banco, roubar um quadro, ganhar uma guerra ou encontrar o Santo Graal. Ao longo dessas façanhas, eles se amam e têm ou não o tempo de se beijar e de transar (nos filmes, esse efeito colateral nos vale cinco minutos de rins, umbigos, pernas e lábios, que não têm nada a ver com a ação e permitem dar um pulo no saguão do cinema para renovar a pipoca). Ora, para mim, os verdadeiros filmes de amor são esses, os da segunda categoria, os filmes "de aventura". Por quê? A maioria desses filmes parece afastada de nossa experiência cotidiana. Com ou sem minha companheira, é raro que eu assalte bancos, roube quadros ou solva enigmas policiais. Mas essas proezas valem como exemplos de um "fazer juntos", que, na prática do amor, é um ideal mais útil do que os meandros dos primeiros encontros, propostos pelos "filmes de amor". Ou seja, os filmes de amor me dizem que, do amor, vale a pena ser narrado apenas o momento do apaixonamento (supõe-se, imagino, que, depois disso, aos poucos, a coisa vire uma lástima). Os filmes de aventura me dizem que existe a possibilidade de uma experiência comum, de uma aventura dos dois (que, claro, não precisa ser tão mirabolante quanto o que acontece na tela). Em suma, concordo com a citação proverbial de Antoine de Saint-Exupéry (o autor de "O Pequeno Príncipe"): "Amar não significa se olhar um ao outro, mas olhar juntos na mesma direção" (se me lembro direito, a frase está em "Terra dos Homens", livro de memórias e reflexões que acaba de ser publicado em português pela Nova Fronteira). Fica a pergunta: o que é "olhar juntos na mesma direção"? Na falta de fortalezas para expugnar, fazer o quê? A forma clássica de olhar juntos na mesma direção é criar filhos. Isso não significa que um casal deva agüentar um inferno conjugal para que pai e mãe fiquem com seus rebentos até eles crescerem. Significa apenas que a tarefa comum de criar os filhos é uma prática possível do amor. Já foi a mais comum, aliás. Num artigo publicado no caderno Mais!, da Folha de domingo passado, Gianni Vattimo nota que a reprodução sexual implica, de uma maneira ou de outra, a vontade de manter e reproduzir o mesmo. O homem do antigo regime previa que seus filhos teriam seu mesmo status num mundo que se manteria igual; nós, homens modernos, sonhamos que nossos filhos nos ultrapassem, mas dentro de um quadro que tendemos a reproduzir (muitos desejam um filho médico, mas poucos gostariam que esse médico fosse Che Guevara). Talvez por essa razão, criar filhos deixe de ser, hoje, a experiência comum dominante na qual prospera o amor de um casal. Há traços da subjetividade moderna que exigem dos casais outras escolhas: a sede de renovação constante (reproduzir e se reproduzir não é mais suficiente para preencher nossa vida) e, sobretudo, a vontade de capitalizar experiência por conta própria (sonhar, por procuração, com a experiência futura dos filhos não nos basta mais). Essa é, portanto, a dificuldade: fora criar filhos, o que é, hoje, para um casal, "olhar na mesma direção"? Alguns praticam o amor lendo poesia em voz alta, outros estudam juntos, outros exercem a mesma profissão ou adotam ambos uma nova religião, outros ainda se dedicam a práticas sexuais "diferentes". Tanto faz. O que importa é que, para existir, um casal precisa inventar e compartilhar uma (longa) aventura.

Calligares

quinta-feira, 21 de abril de 2011

"[...]

O que importa é a verdade, não a metáfora. O que importa é o amor, não as promessas feitas. É tudo muito silencioso e cheio de palavras que explicam por dentro. Você jamais conseguirá concatená-las da forma como elas vêm em forma bruta, quando ainda apenas um pensamento. Mas existirá sempre um jeito de olhar ou uma delicadeza no tratamento da relação que dispensará qualquer explicação.

Agora somos eu e a minha página escrita. Não contei nenhuma história importante, embora eu ande por aí cheia de assunto. No fundo, no fundo, eu só queria saber como vocês estão, porque eu posso sentir a presença de cada um que vem aqui. Eu pude sentir todos os afagos e colos que me foram dados. Tenho a alma povoada de pessoas com seus rostinhos desconhecidos.

Tenho apenas uma curiosidade:

Quando vamos tomar um chopp?"

Marla de Queiroz

quarta-feira, 13 de abril de 2011

Angústia


[...] A angústia introduz à função da falta, no sentido de que ela é, para a psicanálise, radical. Ela é radical para a própria constituição da subjetividade tal qual ela aparece na experiência analítica. "A relação ao Outro se dá por esse ponto de onde surge o fato de que há significante, ponto esse que não poderia ser significado. O que eu chamo de ponto "falta de significante" (Lacan, op. cit)[...]

segunda-feira, 11 de abril de 2011


"Amar, porque nada melhor para a saúde que um amor correspondido".






Obs:(Econtrei como autores dessa frase, tanto Vinícius de Morais, como Tom Jobim. Em todo caso, ela continua sendo muito boa e verdadeira!)

domingo, 10 de abril de 2011

Transmu(d)ando

Quisera descansar meu peito como se houvesse outra vida em mim. Saber-me dona do meu tempo, repousada e calma na inspiração. Quisera encontrar abrigo numa paz maciça de esquecimentos. E que o dia não terminasse abrupto na eternidade do melhor momento.

Mas há que se dizer de fases em que algumas frases vêm anoitecidas. E a força foge ao controle e a tristeza invade um bocado da vida.E o choro não resolve nada, nem nos desvencilha desse mar de dor. Se o peito de engasgado cala, quem será a voz a me falar de amor?

Mas há que se dizer também que nunca uma frase dói a fase inteira. Palavra também amanhece e o pensamento tem que acordar junto. Por isso que o choro seca, que ao amor há entrega porque finda o luto. Descubro que em tempos de guerra o peito se cala, mas na poesia nunca fica mudo.

*

*

Marla de Queiroz

quarta-feira, 6 de abril de 2011


Para quem se trabalha com a PALAVRA há muito valor nela. Pelo que ela faz, pelos sentimentos que expressa, pelo que ela permite a cura. Mas, a maioria descarta-a, julgando sem importância. Na vida pessoa, é preciso manter quem de valor as palavras, pois elas expressam a alma, tocam a minha. Sem valor , machucam, criam feridas que, talvez com as palavras, apenas amenizem a dor e não haja o fechamento.

A.F.S.

domingo, 3 de abril de 2011


Foi numa noite dessas. Numa dessas noites frias que acontecem dentro de mim que percebi. Percebi que dar amor a quem não está preparado para receber é uma das maiores ofensas que se pode fazer a alguém. Oferecer luz a escuridão pode machucar ao invés de libertar. Foi pensando que aquecendo o frio de um coração machucado pela vida poderia ser acolhedor, que aprendi que o gelo sofre ao ser derretido pelo fogo. E que o que parecia ser derretimento eram na verdade lágrimas. Tamanha falta de tato oferecer abrigo a quem habituou-se receber apenas desamparo, acreditando ser o melhor que poderia ter. Isso pode soar invasivo. Corre o risco de ser sentido como agressivo. É germinar novos brotos naquela árvore seca pelo inverno que nem se sabia mais viva. E há tanto medo de crer que é possível, que pode-se não suportar até o tempo de vê-los florescer. Pois já foi mesmo há tanto tempo que se viu algo assim. É esperança demais para uma alma tão surrada. Ainda mais se enquanto faziamos amor, faziamos também poesia.


Ana Dilger