quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

O Sonho


O sonho


Sonhe com aquilo que você quer ser, porque você possui apenas uma vida e nela só se tem uma chance de fazer aquilo que quer.

Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.

Dificuldades para fazê-la forte.
Tristeza para fazê-la humana.

E esperança suficiente para fazê-la feliz.


As pessoas mais felizes não tem as melhores ...coisas.

Elas sabem fazer o melhor das oportunidadesque aparecem em seus caminhos.

A felicidade aparece para aqueles que choram.

Para aqueles que se machucam
Para aqueles que buscam e tentam sempre.

E para aqueles que reconhecem a importância das pessoas que passaram por suas vidas.

Clarice Lispector

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

"[...]A modernidade contém tanto “civilização” quanto “barbárie”. Contém os sistemas de pensamento da certeza absoluta, que produzem fanatismo, intolerância e não comportam a alteridade, e os sistemas de pensamento que não buscam a totalização e suportam a falta de uma verdade absoluta: este é o pensamento que se abre para a alteridade. A modernidade contém os dois sistemas de pensamento, da dúvida e da certeza, que vou qualificar como a civilização e a barbárie, já que são as certezas absolutas que justificam a intolerância e a violência em relação ao diferente.[...]"

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Entrevista com Calligares - Desejo

Sua conferência tem como título A Est-Ética do Desejo.
Calligaris – O título contém uma espécie de trocadilho deliberado e acho isso muito pertinente. Um dos temas que desenvolvi num seminário interno nos EUA era a confusão entre critérios éticos e critérios estéticos que orientam as nossas condutas. Eu tentava mostrar, primeiro, que era normal e esperado que numa sociedade organizada pelas aparências - e digo isso num tom, se for possível, constatativo, não necessariamente crítico - não é nada estranho que razões estéticas orientem os nossos comportamentos, as nossas condutas, a ponto de ter um valor propriamente de razões morais. Primeiro não é estranho e segundo, às vezes os critérios estéticos de fato podem ser excelentes critérios morais. Existem critérios estéticos que podem ser valores éticos. Por exemplo, linchar alguém a pedrada não é bonito, antes disso deveria ser errado moralmente, mas numa situação cultural em que não é óbvio que o critério moral tenha um valor coletivo, ele pode ser substituído por um critério estético, que, como todos os critérios estéticos, sobretudo modernos, são movediços. O critério estético é uma coisa que faz e se desfaz o tempo inteiro, mas ele pode ter uma função parecida com a função que antigamente tinham os critérios éticos.

Como você pensa isso em relação ao desejo?
Calligaris – Quando você pensa o desejo humano, tomando o desejo no sentido mais amplo como o que motiva a nossa conduta, você pode imaginar que nosso desejo seja orientado, por exemplo, pelos ideais que nos foram transmitidos, isso seria um tipo ético de orientação. Numa sociedade, numa cultura em que o desejo é cada vez mais orientado pela expectativa da aprovação dos outros - que é exatamente como se define uma sociedade narcisista, porque nós agimos na procura do olhar dos outros - essa expectativa pode também ter exatamente o mesmo efeito de direção de nossa ação que tinham os critérios ideais numa cultura diferente.

E os efeitos disso na sociedade e na subjetividade individual?
Calligaris – A organização narcisista da personalidade, ou seja, o fato de que a subjetividade contemporânea é fortemente dirigida pelo olhar do outros, isso não é uma coisa sobre a qual nós tenhamos a possibilidade de ter uma posição ideológica, porque isso é a realidade subjetiva da sociedade ocidental moderna, não sei se temos o que escolher. Sempre tem como ser do contra, mas não sei se quando tecemos elogios dos ideais não estamos simplesmente adotando uma posição nostálgica. Um dos defeitos da consciência crítica ocidental que nasceu no século XIX é a idéia de pensar que a posição mais atraente é a posição negativa. Em geral, a psicanálise, a partir da experiência clínica, tem uma atitude um pouquinho diferente: a questão do psicanalista em relação ao paciente é ‘o que é possível fazer que valha a pena, que seja interessante, que não seja uma vida chata a partir das cartas que um paciente tem nas mãos, que alguém tem nas mãos, as cartas que lhe foram dadas?’. Pensar sempre em jogar o baralho fora, ou então parar a mão e redistribuir as cartas, é uma posição que pode se tornar bastante estéril até porque, nem sempre, na verdade quase nunca, a gente tem o poder de redistribuir as cartas. O que a gente pode fazer é jogar a melhor partida possível com as cartas que recebeu. Se a subjetividade contemporânea é uma subjetividade narcisista, muito bem, a partir disso como se organiza um mundo possível em que seja interessante viver? Isso me parece muito mais ao nosso alcance e de fato mais interessante do que uma posição negativa. Por isso me interessa pensar quais são os critérios de conduta, qual é a ética possível a partir desses critérios estéticos.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Sentimento

“Na mesma época em que as crianças se tornaram representantes de nossa vida além da morte, começamos a organizar nossa sociedade pelos sentimentos. Não só nos casamos por amor, mas até nossos laços de sangue pouco valem sem os afetos. Passamos de um mundo em que havia laços com ou sem sentimentos (tanto fazia) a um mundo em que os sentimentos são condição dos laços.” (Contardo Calligaris).

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

RESISTÊNCIA

Freud toma, por tudo que vimos, o
obstáculo como resistência. E no modo
como apresenta a resistência, remetenos,
como dissemos, à função de um
sujeito. Função que aparece na medida
em que, com a inclusão da resistência
como um operador da clínica, a relação
do paciente com o médico excede o
terreno do atender ou não aos objetivos
do tratamento. O impasse de Freud se
apresenta, em um primeiro momento,
como uma questão de o paciente ser ou
não hipnotizado, pré-requisito até então
para o sucesso do tratamento. Ao elucidar
o impasse introduzindo a noção de
resistência, a relação entre o médico e o
paciente não se vê mais reduzida à mediação
pela aplicação de um método que
supõe a técnica da hipnose. A resistência
toma o impasse como índice de um ato
(de defesa), o que por sua vez convoca à
suposição de um sujeito, não localizável
nem no médico nem no paciente conforme
tomados em uma relação dual.[...]

Estudos de Psicanálise – Aracaju – n. 32 – p.171-180 – Novembro. 2009