Uma jovem analisante falava outro dia de suas "ganas de matar" a irmã mais nova. O que a exasperava, eram as horas que ela própria passava se arrumando - "se produzindo"- era a expressão, aliás que parece perfeita, entre outras razões, porque como numa produção de teatro, ela também escolhia o guarda-roupa, os adereços, de acordo com o personagem. Isso, para no fim sair sua irmã "de cara lavada, sem nem se olhar no espelho" indignava-se ela, "parecendo uma princesa de contos de fada". Se o nosso tema fosse a histeria, este fragmento nos daria um bom viés par abordar o problema da reivindicação. Mas, em se tratando de obsessão, cabe a pergunta: por quê uma moça dispensaria os recursos que lhe permitiriam destacar seus atributos? Eu diria que não é garantido que a beleza não possa ser vivida por ela, às vezes como inútil ou mesmo ofensiva. Creio que seria assim porque uma beleza "em excesso" é algo que irrompe aos olhares, que se sobressai, põe em relevo esse corpo que a obsessiva, talvez o obsessivo em geral gostaria de ver absorvido numa topografia mais plana, mais simétrica e sem acidentes que convoquem demasiado o olhar."
(Angela Valore - O Corpo na Neurose Obsessiva.)
Texto perfeito.
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