domingo, 26 de junho de 2011

O que pode uma Mulher?


"[...] Desde a popularização dos métodos anticoncepcionais, nada mais obriga uma mulher a permanecer casada, nem fiel, ao homem que não a satisfaz – supondo, como é provável que ela pense, que o problema seja apenas dele. Supondo que, no sexo, alguém possa satisfazer o outro por completo. Outro aforismo provocativo de Lacan, “não existe a relação sexual”, refere-se à impossibilidade de complementeriedade perfeita entre os sexos. Até mesmo o casamento, que na modernidade inspirou-se na idéia de que homem e mulher poderiam formar dois-em-um, já não é o que prometia ser.
Resta a histeria, esta forma de sofrimento neurótico que muitos psicanalistas (homens) consideram como o paradigma da feminilidade. A histérica acredita n’O Homem como detentor do falo – o que a torna irresistível para os que ainda esperam manter os territórios masculino e feminino rigorosamente diferenciados. Só que a demanda histérica é impossível de satisfazer, o que acaba por desmoralizar o poder masculino. A histeria seria uma espécie de “feminismo espontâneo”, na expressão de Emilce-Dio-Bleichmar: uma recusa do lugar estereotipado de castradas aliada à ignorância sobre o caráter simbólico do falo e da castração.

A alternativa seria a invenção de uma nova arte erótica, mais de acordo com as possibilidades de troca que já estão abertas, embora mal aproveitadas, a partir das novas configurações do masculino e do feminino. A relativa feminização dos homens e a recém conquistada “masculinidade” nas mulheres podem contribuir para romper os automatismos sexuais que sempre empobreceram a experiência erótica de uns e de outras. Se a delicadeza não precisa estar toda do lado das mulheres, os homens já não precisam se garantir pela força. Nem pela brutalidade. [...]"

Maria Rita Kehl

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