terça-feira, 2 de agosto de 2011



Observando dentro do guarda-roupa, ainda permanece pendurada a bata indiana que era sua e que você me deu. Me pergunto porque não a joguei fora, doei, queimei ou então porque não comecei a usá-la. Me angustia não conseguir fazer nada com ela, nem dar sumiço e nem utilidade. Talvez porque junto com qualquer uma dessas possibilidades esteja o sentimento e a lembrança de quanto afeto havia presente naquele momento. Do quanto foi simbólico você me vestir com o que você usava. No momento da entrega despíamos as nossas máscaras e defesas, queríamos tanto nos tocar e nos enxergar em essência. Vestir o que era seu em mim. Misturar o que era seu com o meu, a isso você chamava de nosso. De essências descobertas, descobrimos também nossos abismos, sua escuridão. A imagem refletida na íris era espelho para as sua falhas, frustrações. Sentimentos tão demasiadamente humanos, mas você com toda a sua síndrome de super-homem, não suportou. Ao invés de cuidar das feridas, quebrou-se o espelho para não precisar enxergá-las. Ainda não consegui concluir o cálculo que soma e subtrai os dias de céu e de inferno que você me proporcionou, não cheguei ao resultado total. Roupa de brechó ou peça única. Não me visto mais de você.

A.D.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente sobre o texto e recomende outros autores