O estudo de Freud e o de Lacan coincidem e destacam algo fundamental da natureza humana, a saber: o ser humano se compreende ou se realiza, no sentido forte do termo, só quando é colocado em cena, no espetáculo, no confronto com o outro.[...}
Trocando em miúdos. Saímos de uma situação na qual a razão era prioritária, para um novo momento, no qual o ressoar toma a dianteira. Assim, os jovens contemporâneos não se perguntam entre si: - “Você me entendeu?”, como faziam os seus pais, mas, simplesmente: - “Você tá ligado?”. O que se tornou básico não é um intercâmbio de significado racional, presente no “entender”, mas uma epidemia (outro termo atual que merece nossa atenção, por descrever como se dão mudanças sociais atualmente), uma epidemia de sentido, tá ligado? Saímos do diálogo e estamos indos para os monólogos articulados.
Nesse mundo de hoje, só duas opções: espetáculo ou genérico. Genérico é ser igual a todo mundo, na ordem unida, tal como as geladeiras: todas brancas e ninguém sabe a marca. Espetáculo é um problema. Requer dois movimentos fundamentais, que sintetizo na sigla cheia de futuro: IR. IR de Invenção eResponsabilidade. Sendo que vivemos um mundo despadronizado, no qual faltam referências ao homem que se vê desbussolado, no qual nem o Édipo sobrevive como chave universal, em vez de cada um se medir frente a um padrão, que não há – pois não há um, mas inúmeros - somos levados a inventar uma resposta singular e passá-la responsavelmente no mundo. Assim entendo quando em seu curso de 2010 (inédito), em Paris, Jacques-Alain Miller trabalha a dimensão do show, no passe. Segundo ele, o cartel do passe não teria nenhuma nota a tomar, a não ser se deixar impressionar pelo espetáculo daquele que se oferece a demonstrar a sua maneira de passagem do estritamente singular ao mundo.
Jorge Forbes
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