Se recebo um presente dado com carinho por pessoa de quem não gosto - como se chama o que sinto? Uma pessoa de quem não se gosta mais e que não gosta mais da gente - como se chama essa mágoa e esse rancor? Estar ocupada, e de repente parar por ter sido tomada por uma desocupação beata, milagrosa, sorridente e idiota - como se chama o que se sentiu? O único modo de chamar é perguntar: como se chama? Até hoje só consegui nomear com a própria pergunta. Qual é o nome? e é este o nome. (Clarice Lispector)
terça-feira, 6 de julho de 2010
sexta-feira, 2 de julho de 2010
Sobre a Transferência
"Deve-se compreender que cada indivíduo, através da ação combinada de sua disposição inata e das influências sofridas durante os primeiros anos, conseguiu um método específico próprio de conduzir-se na vida erótica - isto é, nas precondições para enamorar-se que estabelece, nos instintos que satisfaz e nos objetos que determina a si mesmo no decurso daquela. Isso produz o que se poderia descrever como um clichê esteriotípico (ou diversos deles), constantemente repetidos - constantemente reimpressos - no decorrer da vida da pessoa, na medida em que as ciscunstâncias externas e a natureza dos objetos amorosos a ela acessíveis permitam, e que decerto não é inteiramente incapaz de mudar, frente a experiências recentes."
(Freud, S. A dinâmica da transferência - Obras Completas)
quarta-feira, 23 de junho de 2010
A pipa e a flor

Um menino confeccionou uma pipa. Ele estava tão feliz, que desenhou nela um sorriso. Todos os dias, ele empinava a pipa alegremente. A pipa também se sentia feliz e, lá do alto, observava a paisagem e se divertia com as outras pipas que também voavam.
Um dia, durante o seu vôo, a pipa viu lá embaixo uma flor e ficou encantada, não com a beleza da flor, porque ela já havia visto outras mais belas, mas alguma coisa nos olhos da flor a havia enfeitiçado.
Resolveu, então, romper a linha que a prendia à mão do menino e dá-la para a flor segurar. Quanta felicidade ocorreu depois! A flor segurava a linha, a pipa voava; na volta, contava para a flor tudo o que vira.
Acontece que a flor começou a ficar com inveja e ciúme da pipa. Invejar é ficar infeliz com as coisas que os outros têm e nós não temos; ter ciúme é sofrer por perceber a felicidade do outro quando a gente não está perto.
A flor, por causa desses dois sentimentos, começou a pensar: se a pipa me amasse mesmo, não ficaria tão feliz longe de mim... Quando a pipa voltava de seu vôo, a flor não mais se mostrava feliz, estava sempre amargurada, querendo saber com quem a pipa estivera se divertindo.
A partir daí, a flor começou a encurtar a linha, não permitindo à pipa voar alto. Foi encurtando a linha, até que a pipa só podia mesmo sobrevoar a flor.
Esta história, segundo conta o autor, ainda não terminou e está acontecendo em algum lugar neste exato momento.
Há três finais possíveis para ela:
1 - A pipa, cansada pela atitude da flor, resolveu romper a linha e procurar uma mão menos egoísta.
2 - A pipa, mesmo triste com a atitude da flor, decidiu ficar, mas nunca mais sorriu.
3 - A flor, na verdade, era um ser encantado. O encantamento quebraria no dia em que ela visse a felicidade da pipa e não sentisse inveja nem ciúme.
Isso aconteceu num belo dia de sol: a flor se transformou numa linda borboleta e as duas voaram juntas
(* Rubem Alves, “A pipa e a flor”, 2003, Editora Loyola )
sexta-feira, 11 de junho de 2010
"Mas para ser justa, admito que as mulheres também devem ter adorado ver atriz perder o rumo. Continuar linda com quarenta anos, vivendo uma violenta paixão, rica e famosa – é demais para a inveja da gente. Se diante da queda de uma mulher irresistível os homens gozam por sua própria libertação (o desejo escraviza, certo?), as mulheres gozam a revanche de todas as invejas recalcadas. Vergonha para uns e outras, claro. A inveja e o ressentimento, já dizia Nietzsche – este filósofo detestável – são atributos dos fracos, dos escravos, que não ousam lutar por um lugar entre os deuses. Eu já não gosto muito desse papo de deuses, de seres superiores e inferiores, mas concordo com o pára-choques de caminhão: a inveja é uma merda. E quanto aos homens, por favor: tentem pelo menos estar à altura das mulheres que vocês desejam, em vez de ficar esperando a oportunidade triste de festejar a sua decadência."
Maria Rita Kehl
Maria Rita Kehl
domingo, 6 de junho de 2010
"A saudade é a nossa alma dizendo para onde ela quer voltar"
"Amar é ter um pássaro pousado no dedo. Quem tem um pássaro pousado no dedo sabe que, a qualquer momento, ele pode voar”
"Mas nós somos como as lagartixas que perdem o rabo: logo um rabo novo cresce no lugar do velho. Assim é com a gente: logo a vida volta à normalidade e estamos prontos a amar de novo.A saudade doída passa a ser só uma dorzinha gostosa."
RUBEM ALVES
terça-feira, 1 de junho de 2010
As relações afetivas nos jogos da internet.

Essa oferta pode parecer muito sedutora em um primeiro momento. Oferece a possibilidade de um universo em que cada pessoa pode imaginar e criar em outra realidade, sendo esta virtual, tudo aquilo que lhe for desejável.
O jogador, dessa maneira, pode viver um personagem que não se depara com as limitações e obstáculos da vida real e do seu cotidiano. É como se pudesse existir uma vida em que houvesse apenas prazer, o tempo todo.
Neste mundo de "faz-de-conta", é possível vivenciar inúmeros relacionamentos, marcando quantos encontros românticos seja possível desejar, assim como criar cenários onde os personagens são capazes de satisfazerem-se por completo.
Podemos pensar então, o que se espera alcançar ao se relacionar de maneira afetiva, sexual e/ou erótica no universo virtual. Será apenas diversão, entretenimento ou curiosidade? Ou será que pode haver também uma tentativa de se relacionar com outra pessoa apenas utilizando a imaginação.
Esta outra pessoa que, por estar nesse terreno virtual pode ser tomado como um ideal, vindo a ocupar ou a satisfazer alguns anseios que só um personagem pode proporcionar.
Quando dois personagens se relacionam em um mundo virtual consegue-se controlar a distância entre o personagem e o diretor da história inventada. Na maioria das vezes quem dirige prefere preservar sua identidade, fazendo-se anônimo neste momento.
Em uma relação que se dá no campo real não é possível de se encobrir por muito tempo sua individualidade e suas peculiaridades, em função da proximidade e intimidade com o par. Assim, quem dirige e atua na própria história terá que se implicar e se responsabilizar pelos atos cometidos e palavras ditas.
Por outro lado, quem nunca ouviu falar de casais que se conhecem, namoram e até casam pela internet? Temos conhecimentos que muitas dessas relações tornam-se presentes na vida real, passando a relações estáveis e duradouras.
O recurso da internet facilita a comunicação entre os parceiros, como também permite que o vínculo afetivo se dê com maior facilidade para algumas pessoas, ainda mais no caso da timidez aparecer.
O limite entre o uso desses jogos e sites de relacionamentos que despertam fantasias, e alguém que pode estar desenvolvendo um comportamento patológico (gerando dependência dessas relações virtuais), está na habilidade do internauta em não restringir sua vida social e afetiva somente a encontros e conversas que aconteçam apenas em frente à tela de um computador. (Ana Paula Dilger)
texto publicado em: http://www.portalmex.com.br/
sábado, 29 de maio de 2010
Quais são os efeitos dessa exclusão (forclusão) do sujeito nas relações
que estabelecemos com os outros? – pergunta-se Hassoun (1997). O autor
afirma que, na paixão, o sujeito é capturado pelo outro a ponto de se deixar
despossuir de sua subjetividade pela imagem apaixonante na qual ele é a presa.
Na melancolia, o sujeito é tragado pelo terror e espanto diante de sua própria
indignidade, mergulhando num abismo de perplexidade, apatia e crueldade que
o despossui de seu desejo, de sua fala e de sua voz, dando voltas infinitamente
em seu enigmático desastre interior.
No caso do ódio, o sujeito que é sua presa acaba devorado pelo horror
que o outro lhe suscita e passa obstinadamente a tentar destruir essa suposta
causa de sua indignidade. Obsedado por essa ideia, o sujeito persegue por
todos os lados o obscuro e estranho objeto de seu ódio, para melhor destruir o
outro. Primeiro, o outro estrangeiro, portador do significante da diferença, e,
portanto, invasor em seu território narcísico. Progressivamente, o círculo de ódio
vai se estreitando aos mais próximos, atingindo familiares, bem como a si mesmo
(Hassoun, 1997, p. 13-14). Tal como no conto de Poe mencionado acima.
No ódio ao estranho-estrangeiro, seja pela exacerbação do imaginário
especular nas relações sociais, seja pelo surto alucinatório de retorno ao real da
alteridade simbólica forcluída, as consequências são mortíferas.
que estabelecemos com os outros? – pergunta-se Hassoun (1997). O autor
afirma que, na paixão, o sujeito é capturado pelo outro a ponto de se deixar
despossuir de sua subjetividade pela imagem apaixonante na qual ele é a presa.
Na melancolia, o sujeito é tragado pelo terror e espanto diante de sua própria
indignidade, mergulhando num abismo de perplexidade, apatia e crueldade que
o despossui de seu desejo, de sua fala e de sua voz, dando voltas infinitamente
em seu enigmático desastre interior.
No caso do ódio, o sujeito que é sua presa acaba devorado pelo horror
que o outro lhe suscita e passa obstinadamente a tentar destruir essa suposta
causa de sua indignidade. Obsedado por essa ideia, o sujeito persegue por
todos os lados o obscuro e estranho objeto de seu ódio, para melhor destruir o
outro. Primeiro, o outro estrangeiro, portador do significante da diferença, e,
portanto, invasor em seu território narcísico. Progressivamente, o círculo de ódio
vai se estreitando aos mais próximos, atingindo familiares, bem como a si mesmo
(Hassoun, 1997, p. 13-14). Tal como no conto de Poe mencionado acima.
No ódio ao estranho-estrangeiro, seja pela exacerbação do imaginário
especular nas relações sociais, seja pelo surto alucinatório de retorno ao real da
alteridade simbólica forcluída, as consequências são mortíferas.
Assinar:
Postagens (Atom)