"A angústia tem sido apontada como responsável por um sem número de “males” físicos e psíquicos que acometem o homem moderno. Também tem sido considerada tributária do estilo de vida contemporâneo, notadamente caracterizado pela contração temporal, perda da referência à tradição, queda das ideologias e relativização da verdade.
Teorias não excludentes – importante frisar – e que permitem conceber a angústia como constitutiva do sujeito. Enquanto falante, ele surge dividido entre o ser e o Outro da linguagem, sob a forma de significante. O que resta como irrepresentável dessa operação de corte – nomeado por Lacan de objeto a – é o que doravante mediará a dialética do sujeito com o Outro como causa de desejo, inscrevendo-se como perdido no fantasma originário. Daí a emergência da angústia estar condicionada ao reencontro do objeto irremediavelmente perdido.
Bem, a vida é prenhe de objetos perdidos; eles estão por toda parte. Prova disso são as chamadas crises evolutivas – ou, como preferimos, momentos de passagem: adolescência, maternidade, vestibular, separações. Não há quem os atravesse sem boa dose de angústia. Ocasiões em que o sujeito não mais se reconhece no traço significante do desejo do Outro, que até então o representava. Contextos em que a demanda endereçada ao sujeito o interpela, a mostrar que ele é quando ainda não tem condições de sê-lo. Ter de fazer a aparência, como o faz um ator em cena, pode ser algo extremamente angustiante quando se trata da vida real. Sem um roteiro que o oriente, o sujeito desconhece a persona que o Outro vê nele. E se o Outro fosse uma louva-a-deus gigante, como brinca Lacan? Sabemos o que ela faz com seu parceiro no final do encontro.
A angústia é um alerta de que, se não controlarmos por completo o que o Outro vê em nós, arriscamos a perder a cabeça. Tarefa impossível, diga-se de passagem, pois mesmo a mais extensa cadeia significante nunca será suficiente para cobrir o discurso do Outro."
Trechos da Revista Angústia - APPOA. Edição 33
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