sexta-feira, 2 de abril de 2010

Tatuagem, as marcas no corpo.


Quando o horizonte do que desejamos aparece anuviado, quando a linha do futuro se encolhe sobre nosso presente, os códigos que mapeiam nossos objetos faltantes não têm espaço nem tempo para se desdobrar. Quando, como hoje, as referências fálicas se diluem numa infinidade de recortes, cuja equivalência de valor se mede pelo gozo, a ordem simbólica se torna contingente. O que quer dizer que o sujeito não somente pode, mas se vê obrigado a trocar de sinthome¹ a cada passo.
Não é de estranhar, então, que ele deva apelar a escrever sobre seu próprio corpo as marcas que o identifiquem. Um modo de outorgar permanência àquilo que não a tem. Dito de outro modo, gravar uma marca que ninguém, jamais, consiga mudar.
Homens e mulheres – nesse ponto participam do mesmo sinthome – apelam igualmente a piercings e tatuagens. Isso demonstra que ambos estão afetados pela mesma angústia de dissolução de seu campo de desejo. [...] o sujeito a perfurar ou retalhar seu corpo para torná-lo testemunha de sua existência, uma tentativa de subverter a “desordem simbólica”.
(Alfredo Jerusalinski)

¹ Op. cit.: “O que pela primeira vez defini como sinthome é o que permite ao simbólico,
ao imaginário e ao real se manterem juntos, ainda que nenhum deles se sustente já
com o outro...” (Lacan, p. 67).

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