sexta-feira, 10 de abril de 2009

DE REPENTE, UM TAPA ... Apaixonados, desconfiem de si mesmos.

Um tapa, quando viu, era tarde demais. Não existem desculpas, pois o tapa não é fruto de uma má intenção, de um erro de cálculo, nem mesmo do prosaico mau humor. Um tapa não intencional, foge à razão, ele é explosão afetiva que marca o impossível de toda relação.

Michelangelo, ao enfrentar a mudez de seu Moisés: - “Fala! Por que você, estátua tão perfeita, não fala?”.

Que solidão do incompreensível sofrem os que se amam!

Temos que aprender a desconfiar de nós mesmos, o que seria muito melhor que essa febre perniciosa de auto-ajuda e de reforço de auto-estima. Desconfiemos, saibamos que em todos nós habita um Michelangelo, conforme o talento, mas de semelhante princípio: todos, sim, todos podemos agredir quem gostamos muito, por querer que o amor não deixe brecha, nem mal-entendido.

Melhor que desculpas, a responsabilidade. Melhor dizer às Sofias, errei, errei em ficar muito confiante de meu amor por você, que isso só te protegeria. Errei por não ter desconfiado de mim mesmo, de quanto me é difícil saber que o meu amor não é meu, que me ultrapassa, errei por me esquecer da angústia de Michelangelo, ao ver Moisés; um por do sol, uma cachoeira, um beijo: - Por que não falam?

Amar muito alguém não é garantia de segurança do amado.Todos nós conhecemos o que é um sentimento incontrolável, mas o descontrole nunca pode durar mais que o tempo de um tapa.


( Adaptações do artigo publicado na revista WELCOME Congonhas, julho de 2008 - ano 2 - número 16. FORBES, Jorge)

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