quinta-feira, 22 de outubro de 2009

"O que significa dizer que nós, neuróticos comuns, organizamos mentalmente nossas histórias de vida como se fossem romances? Antes de mais nada, que não suportamos o caos, a errância, a passagem do tempo nos conduzindo onde não podemos prever e nos modificando de maneiras que não conseguimos controlar. Mas significa também que pertencemos a um tipo de sociedade em que o tempo de fato modifica as pessoas, uma sociedade que permite e até promove que o rumo tomado por uma vida se distancie tanto de sua origem que, se não produzirmos algum fio narrativo ligando começo, meio e fim, algumas representações que nos sustentam subjetivamente perderão completamente o sentido. A idéia de que somos “indivíduos”, por exemplo, coesos e reconhecíveis ao longo do tempo; a idéia de que a vida que vivemos constitui uma unidade coerente e dotada de sentido e não uma sucessão de dias transcorridos a esmo.[...]"

(Maria Rita Kehl)

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