domingo, 24 de janeiro de 2010

Cinema e delírio

A paixão pelo cinema revela o domínio da pulsão escópica, no qual a psicanálise aponta uma esquize do olho e do olhar que explica porque a partir de um determinado ponto, não se sabe mais quem vê e quem é visto. Seguindo a trilha aberta por Merleau-Ponty, Lacan subverte o senso comum afirmando que o percebido é o que nos percebe. Daí o privilégio do cinema, como o meio mágico, por excelência, de nos perceber no mundo, já que compartilha do mistério da luz, esse primeiríssimo Grande Outro.

O cinema é também fonte inesgotável para que a reflexão psicanalítica possa dar um passo adiante no estudo da imagem, do imaginário além da função do olhar. “Se somos seres olhados no espetáculo do mundo”, para o psicanalista, "o espetáculo do mundo... nos aparece como onivoyeur", mas, se "o mundo é onivoyeur", ele não é "exibicionista - ele não provoca nosso olhar. Quando começa a provocá-lo", afirma Lacan, "então começa também o sentimento de estranheza" (Lacan, Seminário 11).

Para explicitar esse sentimento de estranheza propomos um ciclo de filmes que abordam a temática do delírio, na qual se pode explicitar a função do imaginário e do olhar. Buscamos construir uma articulação entre a linguagem cinematográfica e o discurso sustentado por uma rede de pesquisa sobre “As psicoses” .

No Manuscrito H, em 1895, Freud afirma que os sujeitos amam seu delírio como “a si mesmos”, o que aponta sua importância na pesquisa psicanalítica. Ele vai na contramão de seu tempo ao afirmar que o que se toma por uma produção mórbida, a formação do delírio, é na realidade uma tentativa de cura, uma reconstrução. Concebido como algo positivo e criativo e não mais como algo negativo, o delírio é situado em relação ao devaneio, sonho, imaginação e fantasia. Lacan avança e esclarece a lógica e evolução do delírio quando o concebe como um processo de significação pelo qual o sujeito busca elaborar e fixar uma forma de gozo menos devastadora.

(http://www.espacopsicanalise.com.br/)

Um comentário:

  1. O delírio protege o sujeito de se perder em si mesmo! Mesmo sendo uma realidade psíquica com elementos que não ocorram de fato na realidade, como nos casos da psicose, é a realidade psíquica daquele sujeito e precisa ser respeitada e tratada como uma história que é contata, sendo ela delirante ou não!

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