Assinalemos por onde passa a experiência da paixão na análise. Nesta, o analisando é colocado numa posição singular: tudo falar, mesmo aquilo que aparentemente não tenha qualquer importância: é a regra das associações livres. Se com isso, inicialmente, o analisando se sente totalmente recebido pelo outro, inteiramente amado por absorver a escuta do analista que lhe acolhe em seu silêncio benevolente, essa experiência de agigantamento narcísico vai logo se reverter, pela não-resposta do analista às suas demandas. Esse diálogo singular começa lentamente a estilhaçar a efusão narcísica e a romper com a imagem de unidade do locutor.
Com isso, a figura do analisando passa a reviver todas as feridas de não-reconhecimento pelo outro que balizaram sua história e dirige a este outro, agora presente, todas as imprecações que se encontravam latentes. Assim, a experiência passional do analisando vai se apresentando em suas várias facetas, todas elas marcadas pelo narcisismo, buscando a todo custo a resposta do analista para sua demanda de amor. O que a análise pretende é restaurar o sentido destas faces que se apresentam e não corresponder a elas realisticamente, de maneira que a cada não satisfação se apresentam novas fendas do ego e no sentido do percurso fragmentado vai se perfilando com maior nitidez. De forma complementar, vai se enunciando quem são os vários outros a quem estas faces se dirigem, que vão então se deslocando da figura do analista.
(Joel Birman)
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