domingo, 29 de agosto de 2010
A festa é uma boa ocasião para perguntar: para que serve, hoje, a psicanálise? A campanha eleitoral em curso me ajuda a escolher uma resposta.
Repetidamente, o presidente Lula e Dilma Rousseff se apresentam como pai e mãe dos brasileiros. Em 17/8, Lula declarou: "A palavra não é governar, a palavra é cuidar: quero ganhar as eleições para cuidar do meu povo, como a mãe cuida de seu filho".
No dia seguinte, Marina Silva comentou: "Querem infantilizar o Brasil com essa história de pai e mãe". Várias vozes (por exemplo, o editorial da Folha de 19/8) manifestaram um mal-estar; Gilberto Dimenstein resumiu perfeitamente: "Trazer a lógica familiar para a política significa colocar a criança recebendo a proteção de um pai em vez de um governante atendendo a um cidadão que paga imposto".
Entendo que um presidente ou uma candidata se apresentem como pai ou mãe do povo. Embora haja precedentes péssimos (de Vargas a Stálin, ao ditador da Coreia do Norte, Kim Jong-il), estou mais que disposto a acreditar que Lula e Dilma se expressem dessa forma com as melhores intenções.
O que me choca é que eleitores possam ser seduzidos pela ideia de serem cuidados como crianças e preferi-la à de serem governados como adultos.
Se o governo for paternal ou maternal, o que o cidadão espera nunca será exigível, mas sempre outorgado como um presente concedido por generosidade amorosa; o vínculo entre cidadão e governo se parecerá com o tragipastelão afetivo da vida de família: dívidas impagáveis, culpas, ciúme passional etc. Alguém gosta disso?
Numa psicanálise, descobre-se que a vida adulta é sempre menos adulta do que parece: ela é pilotada por restos e rastos da infância. Ao longo da cura, espera-se que essa descoberta nos liberte e nos permita, por exemplo, renunciar à tutela dos pais e ao prazer (duvidoso) de encarnarmos para sempre a criança "maravilhosa" com a qual eles sonhavam e talvez ainda sonhem.
Tornar-se adulto (por uma psicanálise ou não) é um processo árduo e sempre inacabado. Por isso mesmo, a quem luta para se manter adulto, qualquer paternalismo dá calafrios -ou vontade de sair atirando, como Roberto Zucco.
Roberto Succo (com "s"), veneziano, em 1981, matou a mãe e o pai; logo, fugiu do manicômio onde fora internado e, durante anos, matou, estuprou e sequestrou pela Europa afora. Em 1989, Bernard-Marie Koltès inspirou-se na história de Succo para escrever "Roberto Zucco", peça admiravelmente encenada, hoje, em São Paulo, na praça Roosevelt, pelos Satyros.
Na peça, Zucco perpetra realmente aqueles crimes que todos perpetramos simbolicamente, para nos tornarmos adultos: "matar" o pai, a mãe e, dentro de nós, a criança que devemos deixar de ser.
O diretor da peça, Rodolfo García Vázquez, disse que Zucco é um Hamlet moderno. Claro, para Hamlet, como para Zucco, o parricídio é uma espécie de provação no caminho que leva à "maioridade". Além disso, pai, padrasto e mãe de Hamlet eram reis, e o pai de Succo era policial. Para ambos, o Estado se confundia com a família.
Se o Estado é um pai ou uma mãe para mim, eu não tenho deveres, só dívidas amorosas, e, se esse Estado me desrespeita, é que ele me rejeita, que ele trai meu amor. Por esse caminho, amado ou traído pelo Estado, nunca me considerarei como um entre outros (o que é uma condição básica da vida em sociedade), mas sempre como a menina dos olhos do poder.
Agora, se eu me sentir traído, não me contentarei em mudar meu voto, mas procurarei vingança no corpo a corpo, quem sabe arma na mão; pois essa é a linguagem da paixão e de suas decepções. O paternalismo, em suma, semeia violência.
Enfim, se é verdade que muitos prefeririam ser objeto de cuidados maternos ou paternos a serem "friamente" governados, pois bem, nesse caso, a psicanálise ainda tem várias boas décadas de utilidade pública entre nós.
É uma boa notícia para a psicanálise. Não é uma boa notícia para o mundo fora dos consultórios.
Contardo Calligaris
Estranhos desejos
Artigo publicado na revista Isto É Platinum, out/nov 2008.
O bom senso, que normalmente pensa mal, associa a compra boa e feliz a quando alguém adquire o que lhe é necessário, em especial, se pertencer à trinca das necessidades humanas fundamentais: saúde, educação e moradia. Essa fórmula do politicamente correto funciona ao nível da necessidade, mas nem sempre ao nível do desejo. Desejar é ter um desejo sempre de outra coisa, afirmava Jacques Lacan. Os exemplos chocam: para terror da patroa, sua cozinheira comprou uma boneca de presente de natal para sua filha, empenhando a própria bicicleta. Para desespero da esposa, seu marido pagou cinqüenta mil dólares no carrinho de brinquedo que faltava à sua coleção. Para desconsolo da viúva, sua filha gastou todo o 13º salário, em uma viagem para uma ilha semi-selvagem. Afirmar que esses fatos só ocorrem em um sistema de capitalismo selvagem, corruptor de mentes fracas, hipnotizador perverso e aliciador do consumismo suicida, é acreditar em utopias. As condições de escolha de um objeto, como também de uma pessoa são sempre muito estranhas aos olhos dos outros; é o que fez Fernando Pessoa escrever que todas as cartas de amor são ridículas.
Os tempos de hoje, da globalização, são ainda mais propícios às expressões singulares de cada pessoa, aumentando a taxa de estranheza das escolhas. Isso porque estamos em um tempo no qual não há padrões fixos do que se deve fazer, ou do como se pode ter prazer corretamente. Aumenta muito a responsabilidade de cada um de com quem está, em que lugar, e com o que. Está com os dias contados o exibicionismo do objeto de luxo para mostrar poder e exclusividade, a questão não é mais de impressionar o outro, mas de, como um artista, fazer sua opção subjetiva, e incluí-la no mundo.
Felicidade não tem preço, diz a sabedoria popular, não no sentido de ser muito cara, mas de que não é “precificável”, de que nunca se acha o justo valor. Os objetos da pura necessidade, espera-se que sejam gratuitos, pois se nos puseram nesse mundo, que nos cuidem, ensinem e abriguem; já os objetos de desejo, que cada um responda.
Jorge Forbes
O bom senso, que normalmente pensa mal, associa a compra boa e feliz a quando alguém adquire o que lhe é necessário, em especial, se pertencer à trinca das necessidades humanas fundamentais: saúde, educação e moradia. Essa fórmula do politicamente correto funciona ao nível da necessidade, mas nem sempre ao nível do desejo. Desejar é ter um desejo sempre de outra coisa, afirmava Jacques Lacan. Os exemplos chocam: para terror da patroa, sua cozinheira comprou uma boneca de presente de natal para sua filha, empenhando a própria bicicleta. Para desespero da esposa, seu marido pagou cinqüenta mil dólares no carrinho de brinquedo que faltava à sua coleção. Para desconsolo da viúva, sua filha gastou todo o 13º salário, em uma viagem para uma ilha semi-selvagem. Afirmar que esses fatos só ocorrem em um sistema de capitalismo selvagem, corruptor de mentes fracas, hipnotizador perverso e aliciador do consumismo suicida, é acreditar em utopias. As condições de escolha de um objeto, como também de uma pessoa são sempre muito estranhas aos olhos dos outros; é o que fez Fernando Pessoa escrever que todas as cartas de amor são ridículas.
Os tempos de hoje, da globalização, são ainda mais propícios às expressões singulares de cada pessoa, aumentando a taxa de estranheza das escolhas. Isso porque estamos em um tempo no qual não há padrões fixos do que se deve fazer, ou do como se pode ter prazer corretamente. Aumenta muito a responsabilidade de cada um de com quem está, em que lugar, e com o que. Está com os dias contados o exibicionismo do objeto de luxo para mostrar poder e exclusividade, a questão não é mais de impressionar o outro, mas de, como um artista, fazer sua opção subjetiva, e incluí-la no mundo.
Felicidade não tem preço, diz a sabedoria popular, não no sentido de ser muito cara, mas de que não é “precificável”, de que nunca se acha o justo valor. Os objetos da pura necessidade, espera-se que sejam gratuitos, pois se nos puseram nesse mundo, que nos cuidem, ensinem e abriguem; já os objetos de desejo, que cada um responda.
Jorge Forbes
sexta-feira, 27 de agosto de 2010
Feliz dia do Psicólogo!
De início, e já complicando, temos que nem a Psicologia nem a Psicanálise poderiam ser tratadas como unas. Há, na Psicologia, muitas Psicologias; e o mesmo acontece com a Psicanálise. Dentre as muitas Psicologias, tratarei daquela que está mais próxima de um raciocínio positivista, a que busca verificar os comportamentos humanos por meio de experimentos, por ser esta a que mais se diferencia da Psicanálise.
Como disse, são muitas as Psicologias e mui- tas delas têm propostas de compreensão do psiquis- mo que fazem uso da Psicanálise ou discutem o psiquismo como resultado de uma dinâmica psí- quica (por exemplo: psicodrama, gestalt, etc.). A partir destas, as diferenças são sutis e difíceis de tratar em um breve artigo. A Psicologia Experimen- tal, por sua vez, apresenta diferenças marcantes e acaba por ser bastante conhecida por pessoas fora daárea.1
Os psicólogos podem fazer uso da Psicanálise apenas como um instrumento dentre muitos outros, tal como se vê na análise de alguns testes projeti- vos. Ou podem começar a praticar uma psicotera- pia de base analítica. Ou mesmo fazer referência a apenas um ou outro aspecto na prática terapêutica, quando pressupõem em todas as ações humanas algo de latente ou inconsciente.
Por sua vez, a Psicanálise também se faz pre- sente em muitas apresentações, variando-se a cor- rente de acordo com o enfoque ou com o teórico que desenvolveu esta ou aquela idéia. Como Psi- canálise, abordarei mais especificamente as obras freudiana e lacaniana, sem nenhum demérito em relação aos outros teóricos psicanalistas, tendo como norte minhas possibilidades de aprofunda- mento, dentro do que conheço.
De maneira geral, a Psicanálise dificilmente se aproxima da Psicologia como possibilidade de con- tribuição. Os psicanalistas, pelo contrário, parece buscar justamente o que diferencia as duas disci- plinas, fazendo referênciaà Psicologia apenas para afastá-la e não para conhecê-la.
Apresentarei cinco pontos de diferenças entre a Psicologia e a Psicanálise, definidos didaticamen- te, já que todos se relacionam:
•o eixo (aquilo que norteia o raciocínio teórico da
disciplina, o objeto de estudo);
•a etiologia (como são estabelecidas as propostas
teóricas acerca da etiologia dos sintomas);
•o patológico (as possíveis classificações psico-
patológicas);
•a ética (e a direção da cura);
•o papel do clínico.
Roberta Ecleide Ol. Gomes-Kelly
De início, e já complicando, temos que nem a Psicologia nem a Psicanálise poderiam ser tratadas como unas. Há, na Psicologia, muitas Psicologias; e o mesmo acontece com a Psicanálise. Dentre as muitas Psicologias, tratarei daquela que está mais próxima de um raciocínio positivista, a que busca verificar os comportamentos humanos por meio de experimentos, por ser esta a que mais se diferencia da Psicanálise.
Como disse, são muitas as Psicologias e mui- tas delas têm propostas de compreensão do psiquis- mo que fazem uso da Psicanálise ou discutem o psiquismo como resultado de uma dinâmica psí- quica (por exemplo: psicodrama, gestalt, etc.). A partir destas, as diferenças são sutis e difíceis de tratar em um breve artigo. A Psicologia Experimen- tal, por sua vez, apresenta diferenças marcantes e acaba por ser bastante conhecida por pessoas fora daárea.1
Os psicólogos podem fazer uso da Psicanálise apenas como um instrumento dentre muitos outros, tal como se vê na análise de alguns testes projeti- vos. Ou podem começar a praticar uma psicotera- pia de base analítica. Ou mesmo fazer referência a apenas um ou outro aspecto na prática terapêutica, quando pressupõem em todas as ações humanas algo de latente ou inconsciente.
Por sua vez, a Psicanálise também se faz pre- sente em muitas apresentações, variando-se a cor- rente de acordo com o enfoque ou com o teórico que desenvolveu esta ou aquela idéia. Como Psi- canálise, abordarei mais especificamente as obras freudiana e lacaniana, sem nenhum demérito em relação aos outros teóricos psicanalistas, tendo como norte minhas possibilidades de aprofunda- mento, dentro do que conheço.
De maneira geral, a Psicanálise dificilmente se aproxima da Psicologia como possibilidade de con- tribuição. Os psicanalistas, pelo contrário, parece buscar justamente o que diferencia as duas disci- plinas, fazendo referênciaà Psicologia apenas para afastá-la e não para conhecê-la.
Apresentarei cinco pontos de diferenças entre a Psicologia e a Psicanálise, definidos didaticamen- te, já que todos se relacionam:
•o eixo (aquilo que norteia o raciocínio teórico da
disciplina, o objeto de estudo);
•a etiologia (como são estabelecidas as propostas
teóricas acerca da etiologia dos sintomas);
•o patológico (as possíveis classificações psico-
patológicas);
•a ética (e a direção da cura);
•o papel do clínico.
Roberta Ecleide Ol. Gomes-Kelly
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
Frases
"Quem duvida do próprio amor, duvida de todas as pessoas que ama." (Freud)
"O sintoma aparece no lugar do que não pode ser falado." (Maud Mannoni)
"Existem pessoas que se não sofrerem, se não tiverem o prazer do sofrimento, ficam mais loucas do que nunca." (Jorge Volonovich)
"Hoje em dia, as pessoas têm tanto medo de se arriscar que terminam por não correr o risco de ser felizes." (F. Dolto)
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
terça-feira, 17 de agosto de 2010
segunda-feira, 16 de agosto de 2010
"Se o tratamento não reside mais em se mirar no exemplo do ídolo da geração anterior, o que temos a fazer é implicar cada um em seu ponto de vergonha essencial, aquele que a fama não recobre e que o dinheiro não compra, um ponto de vergonha que todo ser humano carrega em si por ter nascido e não saber muito bem o que faz por aqui, por se sentir um acontecimento sem explicação". (Jorge Forbes)
sábado, 7 de agosto de 2010
No mundo atual, em que somos órfãos tanto de Deus quanto dos desígnios patriarcais, a liberdade individual estende-se até o limite da pergunta: por que viver? Não há Deus que nos obrigue a suportar a vida a qualquer preço, nem tradição que nos imponha um destino herdado de nossos ancestrais. A vida tem que valer a pena, aqui e agora. A liberdade de escolher a própria morte, nesses três filmes, se apresenta como conseqüência lógica de uma vida sustentada pelo desejo. Morrer, nos casos em que a vida perdeu o sentido dado pelo princípio do prazer, não é covardia – é antes insistência de Eros. Uma vida sem nenhum prazer perde a razão de ser..
Mesmo assim, vale perguntar se não há casos em que o sentido da vida transcenda a dimensão do corpo. Sem a sublimação e a criação, mesmo uma vida voltada para os prazeres do corpo fica bastante limitada. Seremos a “besta sadia/cadáver adiado que procria”, do verso de Fernando Pessoa. Igualmente pobre é a vida privada, voltada apenas para a intimidade familiar e excluída do espaço público. Maggie, a Menina de Ouro de Clint Eastwood, prefere morrer enquanto ainda tem viva a lembrança dos aplausos do público, do que vegetar no anonimato de um quarto de hospital. O sucesso e a fama são a versão mais próxima de uma vida pública, na dramaturgia dos EUA. Já o tetraplégico representado por Javier Barden, sem sair de seu quarto, contou com a potência de sua palavra, capaz de transformar a vida de outras pessoas. Palavra cuja verdade foi publicamente sancionada, em retrospecto, pela realização de seu desejo de morrer. .
Mesmo assim, vale perguntar se não há casos em que o sentido da vida transcenda a dimensão do corpo. Sem a sublimação e a criação, mesmo uma vida voltada para os prazeres do corpo fica bastante limitada. Seremos a “besta sadia/cadáver adiado que procria”, do verso de Fernando Pessoa. Igualmente pobre é a vida privada, voltada apenas para a intimidade familiar e excluída do espaço público. Maggie, a Menina de Ouro de Clint Eastwood, prefere morrer enquanto ainda tem viva a lembrança dos aplausos do público, do que vegetar no anonimato de um quarto de hospital. O sucesso e a fama são a versão mais próxima de uma vida pública, na dramaturgia dos EUA. Já o tetraplégico representado por Javier Barden, sem sair de seu quarto, contou com a potência de sua palavra, capaz de transformar a vida de outras pessoas. Palavra cuja verdade foi publicamente sancionada, em retrospecto, pela realização de seu desejo de morrer. .
quinta-feira, 5 de agosto de 2010
Bela Vida, Boa Morte I
Morra jovem e seja um belo cadáver (Oscar Wilde)
Não é moderna a idéia de que a uma vida bem vivida deve corresponder uma boa morte. Aristóteles, em sua Ética a Nicômaco, já escrevera que a qualidade da vida de um homem só pode ser avaliada no dia de sua morte. Não só porque a morte permite medir, em retrospecto, o vivido – a morte completa o sentido da vida – mas também porque uma morte indigna, ou um ato indigno cometido no último minuto, pode desfazer o efeito de toda uma vida vivida de acordo com o que, para os gregos, consistia o Bem Supremo.
. O que a modernidade acrescentou ao ideal aristotélico foi o debate sobre o direito ao suicídio, cuja antiga grandeza trágica foi abolida pelo cristianismo. O direito de escolher a própria morte é a confirmação radical da liberdade humana – daí a frase de Albert Camus, para quem o suicídio seria a única questão filosófica verdadeiramente importante, máxima expressão de autonomia dos homens em um mundo sem Deus. O problema colocado pelo suicídio é que, se é legítimo desejar a morte, a vida deixa de ser um bem absoluto.
Em 1920, Freud escreveu que o sentido da vida é dado pelo princípio do prazer. De lá para cá, a discussão sobre o preço e os riscos da liberdade cedeu lugar às demandas hedonistas, próprias das sociedades de mercado em estágio avançado. O debate filosófico sobre a liberdade, hoje, reduziu-se à dimensão mesquinha dos direitos do consumidor. Ser livre, nesse caso, significa pouco mais do que escolher o que se quer comprar. O problema existencial contemporâneo é saber como abolir, da vida, todo sofrimento. Se possível, aboliríamos a morte; há quem aposte nisso – e mande às favas, ao encomendar o congelamento do próprio corpo até o século XXII, todas as interrogações filosóficas sobre a finitude da carne e a imortalidade da alma. Mas se a morte for inevitável, que seja possível pelo menos viver o tempo que nos cabe sem ter notícias da dor. [...]
Maria Rita Kehl
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