sábado, 7 de agosto de 2010

No mundo atual, em que somos órfãos tanto de Deus quanto dos desígnios patriarcais, a liberdade individual estende-se até o limite da pergunta: por que viver? Não há Deus que nos obrigue a suportar a vida a qualquer preço, nem tradição que nos imponha um destino herdado de nossos ancestrais. A vida tem que valer a pena, aqui e agora. A liberdade de escolher a própria morte, nesses três filmes, se apresenta como conseqüência lógica de uma vida sustentada pelo desejo. Morrer, nos casos em que a vida perdeu o sentido dado pelo princípio do prazer, não é covardia – é antes insistência de Eros. Uma vida sem nenhum prazer perde a razão de ser..
Mesmo assim, vale perguntar se não há casos em que o sentido da vida transcenda a dimensão do corpo. Sem a sublimação e a criação, mesmo uma vida voltada para os prazeres do corpo fica bastante limitada. Seremos a “besta sadia/cadáver adiado que procria”, do verso de Fernando Pessoa. Igualmente pobre é a vida privada, voltada apenas para a intimidade familiar e excluída do espaço público. Maggie, a Menina de Ouro de Clint Eastwood, prefere morrer enquanto ainda tem viva a lembrança dos aplausos do público, do que vegetar no anonimato de um quarto de hospital. O sucesso e a fama são a versão mais próxima de uma vida pública, na dramaturgia dos EUA. Já o tetraplégico representado por Javier Barden, sem sair de seu quarto, contou com a potência de sua palavra, capaz de transformar a vida de outras pessoas. Palavra cuja verdade foi publicamente sancionada, em retrospecto, pela realização de seu desejo de morrer. .

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