sábado, 26 de fevereiro de 2011

Um fato marca a vida,

Uma pessoa tem a importância que nunca vai saber,

ainda bem.

E escuto do meu sujeito suposto saber:

“Há dez anos a que não vejo esse olhar!

Você mudou,

Agora você se tornou o que você é!”

O sou o que sou,

Não preciso mais...

Isso me faz saber que o processo está chegando ao final,

Não é um abando, apenas não preciso mais,

Do saber suposto saber,

Não é mais o mesmo, sou eu mesmo.

O processo continua dentro de mim,

O processo de auto-análise.


Andressa Furquim de Souza



“Ora veja… é o que sempre acontece às pessoas românticas: enfeitam uma criatura, até o último momento, com penas de pavão, e não querem ver, nela, senão o que é bom, muito embora sentindo tudo ao contrário. Jamais querem, antecipadamente, dar às coisas o seu devido nome. Essa simples idéia lhes parece insuportável. A verdade, repelem-na com todas as forças até o momento em que aquela pessoa, engalamada por elas próprias, lhes mete um murro na cara”

(Fiodor Dostoiévski in Crime e Castigo)

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

"Amor é dar o que não se tem a alguém que não quer."
(Lacan)

"Os homens não conseguem desejar a mulher que amam, nem amar a mulher que desejam.
lacan

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011




- E você, por que desvia o olhar?
(Porque eu tenho medo de altura. Tenho medo de cair para dentro de você. Há nos seus olhos castanhos certos desenhos que me lembram montanhas, cordilheiras vistas do alto, em miniatura. Então, eu desvio os meus olhos para amarra-los em qualquer pedra no chão e me salvar do amor. Mas, hoje, não encontraram pedra. Encontraram flor. E eu me agarrei às pétalas o mais que pude, sem sequer perceber que estava plantada num desses abismos, dentro dos seus olhos.)
- Ah. Porque eu sou tímida.

(Rita Apoena)

sábado, 19 de fevereiro de 2011


"Eu já estou melhor porque agora já não preciso fazer, eu já posso imaginar que faço".

(Dick, pequeno paciente de Melanie Klein)

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011



"Quando posso fazer psicanálise, faço; quando não posso, faço algo orientado psicanaliticamente".

(Donald Winnicott, 1971)

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Expressão da minha alma

Amor que no início era estimulante,
Provocava euforia
Uma paixão inexplicável na alma,
Prometida segurança
E dizia ser eu o amor da sua vida
Após se dar conta de ser extremamente egoísta,
Passada sua própria paixão
Desestimulou o relacionamento,
a vontade de ficar junto
E tornou o amor, que virara amor, simplesmente volátil.

Andressa Furquim de Souza


É preciso esperar pelo momento certo em que seja possível comunicar ao paciente a interpretação com alguma perspectiva de êxito. Mas como se saber qual o momento certo? É uma questão de tato.

(Freud, 1926)

domingo, 13 de fevereiro de 2011


"Aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não tornar-se também um monstro. Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você."

(Friedrich Nietzsche)

sábado, 12 de fevereiro de 2011


Ilustro mistérios enquanto me desnudo pra você
tirando cada peça que cobre o meu corpo.
Você nem imagina quanta sinceridade foi adulterada
no exato momento em que eu desviei o meu olhar do teu:
escondi em um segundo, uma vida de intenções.
Fui reeducada para farsas desde que me abandonaram
no meio de um amor tão espontâneo.
Agora não tenho dedos famintos de reações nem lábios lascivos.
Agora tudo é toque leve e avisado, histórias bem-datadas e beijo breve.
E no rosto eu cultivo com afinco essa expressão fria e o olhar vazio.
Tudo é disfarce e nenhuma verdade.
Eu aprendi a cultivar distâncias.
Finalmente eu troquei a minha real intensidade
pela postura calculadamente adequada de moça frágil.
Finalmente eu construí um personagem sem nenhuma poesia.
Agora, todo o meu afeto é discreto e as minhas taquicardias
semi-ausentes
(para que me ame e nada doa em você.)

E o que era blue(s), agora jaz(z).
*
*
(Marla de Queiroz)

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Dor de amar


"Amar é um estado que habita o coração da condição humana em suas dimensões mais prazerosas e também naquelas em que nos assola o desespero mais profundo. Talvez não haja maior enlevo do que aquele proporcionado pelo estado do amor. Em contrapartida, parece não haver miséria mais profunda, desespero maior do que a desilusão amorosa.

Nunca estamos tão indefesos em relação ao sofrimento do que quando amamos, nunca tão inapelavelmente infelizes do que quando perdemos nosso objeto de amor ou o amor dele por nós. [...]


A tese é que não há amor sem dor na medida em que a dor de amar é inerente ‘à própria condição de amar’, não se restringindo à eventualidade da separação, na medida em que amar, na acepção madura do termo, implica em discriminação da individualidade. Amar dói na medida em que revela a alteridade e, portanto, a individuação e a solidão pessoais. Encarar a presença da alteridade refreia a onipotência, resulta na necessidade de abandonar o estado narcísico e seus eventuais benefícios. A passagem de uma condição narcísica para uma de individuação não se faz sem dor."

Plinio Montagna

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011



A porta da verdade estava aberta,

mas só deixava passar

meia pessoa de cada vez.

Assim não era possível atingir toda a verdade,

porque a meia pessoa que entrava

só trazia o perfil de meia verdade.

E sua segunda metade

voltava igualmente com meio perfil.

E os meios perfis não coincidiam.

Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.

Chegaram ao lugar luminoso

onde a verdade esplendia seus fogos.

Era dividida em metades

diferentes uma da outra.

Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.

Nenhuma das duas era totalmente bela.

E carecia optar. Cada um optou conforme

seu capricho, sua ilusão, sua miopia.




(Carlos Drummond de Andrade)

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Rubem Alves

A vida não pode ser economizada para amanhã. Acontece sempre no presente
(RUBEM ALVES)

Ao final de nossas longas andaças, chegamos finalmente ao lugar. E o vemos então pela primeira vez.Para isso caminhamos a vida inteira: para chegar ao lugar de onde partimos.E, quando chegamos, é surpresa.É como se nunca o tivéssemos visto.Agora, ao final de nossas andaças, nossos olhos são outros, olhos de velhice, de saudade.
(RUBEM ALVES)

Continuaram a acariciar-se sem desejo e atormentando-se com as súplicas e as recordações. Saborearam a amargura de uma despedida que pressentiam, mas que ainda podiam confundir com uma reconciliação.
(RUBEM ALVES)

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Muita coisa foi dita sobre a perplexidade e a solidão do homem depois que o Céu desapareceu da crença ativa. Sabemos que o vazio neutro dos céus e sabemos dos terrores que este desaparecimento acarretou. Mas pode ser que a perda do Inferno tenha sido o deslocamento mais severo. Pode ser que a transformação do Inferno em metáfora tenha deixado uma lacuna formidável nas coordenadas de que a mente ocidental dispõe para a localização, para o reconhecimento psicológico. Não ter nem Céu nem Inferno é ficar intolerantemente carente e solitário em um mundo que se tornou plano. Dos dois, o Inferno demonstrou ser o mais fácil de recriar.
(George Steiner, No castelo do Barba Azul 1991)
O que eu sinto, eu não ajo. O que ajo, não penso. O que penso, não sinto. Do que sei, sou ignorante. Do que sinto, não ignoro. Não me entendo e ajo como se me entendesse
Clarisse Lispector

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011



"Quer saber o que eu penso? Você aguentaria conhecer minha verdade? Pois tome. Prove. Sinta. Eu tenho preguiça de quem não comete erros. Tenho profundo sono de quem prefere o morno. Eu gosto do risco. Dos que arriscam. Tenho admiração nata por quem segue o coração. Eu acredito nas pessoas livres. Liberdade de ser. Coragem boa de se mostrar. Dar a cara a tapa! Ser louca, estranha, chata! Eu sou assim. Tenho um milhão de defeitos. Sou volúvel. Sou viciada em gente. Adoro ficar sozinha. Mas eu vivo para sentir. Por isso, eu te peço. Me provoque. Me beije a boca. Me desafie. Me tire do sério. Me tire do tédio. Vire meu mundo do avesso! Mas, pelo amor de Deus, me faça sentir... Um beliscãozinho que for, me dê. Eu quero rir até a barriga doer. Chorar e ficar com cara de sapo. Este é o meu alimento: palavras para uma alma com fome".

(Fernanda Mello)