quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Muita coisa foi dita sobre a perplexidade e a solidão do homem depois que o Céu desapareceu da crença ativa. Sabemos que o vazio neutro dos céus e sabemos dos terrores que este desaparecimento acarretou. Mas pode ser que a perda do Inferno tenha sido o deslocamento mais severo. Pode ser que a transformação do Inferno em metáfora tenha deixado uma lacuna formidável nas coordenadas de que a mente ocidental dispõe para a localização, para o reconhecimento psicológico. Não ter nem Céu nem Inferno é ficar intolerantemente carente e solitário em um mundo que se tornou plano. Dos dois, o Inferno demonstrou ser o mais fácil de recriar.
(George Steiner, No castelo do Barba Azul 1991)

3 comentários:

  1. O Céu não sabe ser Céu sem um Inferno que lhe sirva de referencial.

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  2. Consequências do momento social que vivemos, onde as identificações e referências têm se desmantelado; nem sempre pouco a pouco.

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  3. É, Ana Paula... o ser humano quis, a todo custo, romper todo e qualquer limite. Agora está morrendo afogado num gozo quase ilimitado...

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