quinta-feira, 31 de março de 2011


Sua insuficiência de repertório perante meus sentimentos, seu vazio, seu silêncio. Seu “ tanto faz” para um presente que queria há anos, que mandei trazer de outro país. Fazem-me pensar... Como? Como tinha sentimentos tão belos? Como tinha palavras doces que iluminavam meu dia? Como tinha sonhos comigo tão encantados? Onde foi parar tudo isso, sendo que você não transformou isso em outra coisa? Ou era algo meu? Que você pegou emprestado e esqueceu-se de devolver, pois sou tão intensa, cheia de sentimentos e amor.

A. F. S.

quarta-feira, 30 de março de 2011


Alguma Tristeza

Este silêncio é assustador. Não porque talvez ele não seja necessário, mas porque mesmo sendo necessário, ele machuca. E ando muito ferida pra suportar um pouco mais de dor. Então eu queria que alguém me dissesse que vai ficar tudo bem, sabe? Porque esta incerteza toda tem me desnorteado demais. E uma ansiedade aguda toma conta de mim minuto a minuto.E ainda há a saudade.E mesmo que as previsões sejam positivas, tudo ainda me parece tão longínquo!E estou com pressa, e sede e fomes demais. Percebe como minhas palavras estão respirando com dificuldade? Então eu te peço pra não me deixar tão sozinha assim nesta fase. Mesmo que haja sol e as ondas vão e venham incansavelmente me lembrando do movimento da vida, a sua voz me faz tanta falta quanto uma brisa. Não que tenha me faltado companhia, mas em algum momento o abraço termina porque as pessoas têm as suas vidas. E ainda, o barulho das cidades têm me incomodado tanto quanto este silêncio denso. Então eu fico sem saber pra onde ir. E fico tão sonolenta e encolhida no meu canto até que alguém venha me abraçar novamente. E às vezes esse socorro demora tanto por causa da minha necessidade sempre tão urgente de tudo. De paz. Por não querer sufocar ninguém, fico aqui, sufocada.

Só estou te dizendo estas coisas porque acho estranho você não ter a menor curiosidade em saber como tenho me sentido. Depois de tudo. Porque não existe um segundo sequer em que eu não pense e queira saber e deseje que você esteja bem. Só isso.

*

Marla de Queiroz

Sou guiada pelo meu desejo,
e adoro isso.
Não sinto mais culpa,
nem dor
nem arrependimento.
Apenas sinto algo que não se expressa em palavras,
uma liberdade,
que poucos sentem.

A.F.S.

segunda-feira, 28 de março de 2011


A sexualidade se instaura no campo do sujeito por uma via que é a da falta.

(Lacan)

sexta-feira, 25 de março de 2011

Mulher


[...]

As mulheres disputam palmo a palmo o mundo executivo com os homens e, na tarefa de conquistar e se fazer reconhecidas nesse universo masculino, se afastam da exteriorização de qualquer sinal de fragilidade atribuída ao sexo feminino com que possam ser identificadas e de que possam ser acusadas. Fizeram-se obsessivas, ainda que continuem histéricas, para responder ao que lhes é demandado nesse mundo masculino no qual elas precisam marcar presença.

Filhas da revolução, elas parecem ter tomado para si a missão de não contentar-se com um destino antes admitido às mulheres. Fizeram-se herdeiras de um legado, que as proíbe de gozar de fazer-se falo para um homem. Demandadas a assinarem a própria obra e imbuídas da tarefa de continuar o trabalho iniciado por suas mães, de consolidar o lugar da mulher na cena social, não se permitem descansar dessa tarefa. Ocupam cada vez mais uma posição subjetiva, que outrora parecia mais conforme ao destino masculino, de precisar ratificar o direito ao nome recebido como metáfora do falo.

O pai, por sua vez, já não deixa barato o nome dado às filhas. Não permite tão facilmente que o nome de outro homem – ainda que não haja troca de nome – venha a se inscrever no lugar do seu. Não se deixa perder, para que um outro venha a substituí-lo, no nome da filha. Para isso ele precisaria admitir a própria morte – ou sua simbolização – o que dá no mesmo. [...]

Marli Ciriaco Vianna


quarta-feira, 23 de março de 2011

Continuação da Entrevista com calligares

Em outro artigo você afirma que as pessoas andam “tão preocupadas em preservar suas liberdades individuais que acabam por preservar a sua solidão”. É verdade?
Eu acho que, em vez de fugir dos relacionamentos, seria menos custoso inventar maneiras de convivência em que a gente pudesse pagar um pouco menos do que a solidão. A gente tem muito a inventar na maneira de um casal conviver e negociar a individualidade um do outro. Defendo as uniões duradouras, porque são mais interessantes. Acho que muitas separações — mas, cuidado, não todas, longe disso — são efeito de preguiças diversas. Então, valorizo os esforços dos que tentam ficar juntos.

Ainda sobre relacionamentos, você sempre pergunta: “Qual é a melhor viagem, visitar as capitais européias num ‘tour’ de 15 dias ou passar duas semanas numa cidade só e conhecê-la um pouco?”. O que quer dizer?
Quero dizer que a diversidade das relações é dramaticamente desinteressante. A grande maioria das pessoas vive uma série de monogamias. São poucas as que preferem uma vida de quinze capitais em quinze dias. E a verdade é que isso é muito pouco interessante. Porque não existe nada de mais interessante no mundo do que as pessoas. E, se você inventa um sistema de relações que na verdade é um sistema de não-rela-ções, se priva do que há de melhor na vida.

Mas não há um certo prazer na variedade?
Não é a variedade, mas o desconhecido que tem valor erótico. Se você está disposto a ter uma transa num canto escuro de um parque com alguém que nunca viu, isso é uma fantasia sexual do caramba. Só não esqueça a camisinha. Mas ser galinha e ter um flerte com uma conversa babaca a cada dois dias não tem interesse nenhum, nem sexual, nem individual. Entendo perfeitamente uma atividade sexual de sauna, de clube de swing, mas essa do “eu flerto, bato um papinho, dou dois beijos e passo para outra” não tem nenhuma graça.

Fidelidade é essencial num relacionamento?
[Pensa] Não tenho valores absolutos sobre isso. Mas existe a ideologia, muito cool, de que “tudo bem, nós somos liberados, transa com quem você quiser e eu também”. Só que, na maioria dos casos, os dois vão sofrer uma barbaridade com isso: vão ter ciúmes, morder as unhas, se odiar e acabar numa merda. Na grandíssima maioria dos casos é uma mentira.

Existe uma apologia do não-compromisso?
É possível. O que me espanta na geração dos meus filhos, que têm entre 19 e 24 anos, é que eles se engajam em relações importantes, que duram anos, mas só são possíveis numa espécie de negação absoluta. É evidente que estão construindo uma vida a dois, monogâmica, mas existe uma atuação teatral do não-compromisso, uma negação da retórica do amor. Agora, eles praticam a fala de nenê. Nê-nê-nê! [Gargalhadas] Isso é uma praga!

Que outras diferenças você vê?
Outra coisa que noto é que eles não parecem tão interessados pelo sexo quanto a minha geração. A liberação sexual nos anos 60 era um tema ideológico. Era uma obrigação transar em grupo, trocar de parceiro na cama… E acho, mas pode ser só impressão, que a atividade fantasmática sexual é pouco presente nos jovens de 20 anos agora. Isso pode até ser positivo, porque diminui as expectativas… Mas, não sei. Acho menos divertido.

Por que as novas gerações estariam menos interessadas em sexo?
A velha idéia é de que a proibição fazia o “sal” da coisa. E uma vez que a sexualidade foi liberada… Mas não acredito nisso. A hipótese que levanto é que a nova geração erotiza menos as relações de domínio. E, portanto, falta o elemento que era para as gerações precedentes uma das fontes essenciais da excitação. Quando falo “erotizar as formas de domínio”, não significa nada de espantoso. É aquele casal que se adora e na hora da transa ele diz “toma aqui, sua puta!” e os dois gozam freneticamente. A pergunta é: as novas gerações são capazes de inventar uma sexualidade diferente? É possível. Mas esse déficit é visível na indústria da “mascarada sadomasoquista” e nos filmes pornôs, em que um strip ou uma transa não interessam mais — o negócio é “a puta violentada pelo policial”. Também há um fundo sadomasoquista no movimento gótico, no punk, nos vampiros, na cultura da tatuagem e do piercing.


sexta-feira, 18 de março de 2011

Entrevista Calligares


Dizem que brasileiro é bom de cama. Por quê?

Quando você fala em “sexualidade do brasileiro”, está se referindo a uma curiosa confluência entre o que acontece na vida individual e na vida dos povos. O Brasil foi o maior sistema escravagista do mundo, e a gente se pergunta se isso acabou direito. O fato de “nós”, no caso os brasileiros, sermos sensuais, ou sexuais mesmo, tem a ver com a permanência dessas relações de domínio escravagista — que é o domínio do corpo, o “faço com o seu corpo o que me der na telha”. Esse sadomasoquismo talvez seja a dinâmica fundamental de qualquer excitação sexual. E uma das razões pelas quais há uma dificuldade de se conciliar sexo e carinho.

Por que é difícil conciliar sexo e carinho?

É possível ter carinho pela pessoa com quem a gente transa e transar com a pessoa por quem sentimos carinho. Mas em uma alternância. O sexo não é o momento do carinho. Quando as relações se tornam totalmente carinhosas e as pessoas começam a falar como bebês, daqui a pouco somos o Mickey e a Minnie e vamos dormir com o pijaminha da Disney. Pode ser legal, mas aí a gente vai acabar não transando mais. Por isso que um bom casal é um casal que briga.

Um bom casal é um casal que briga?!

Eu não acho que as relações “apaziguadas” sejam as melhores. Nem que seja grande problema, num casal, de vez em quando voarem uns pratos. É a briga que permite o sexo. Não que você precise sair brigando para depois transar. Quero dizer que a briga serve para quebrar o nhenhenhém. Porque o sexo implica uma certa distância.

E a idéia muito difundida em revistas femininas de que, com o tempo, é normal o relacionamento esfriar e sobrar só o “companheirismo”?

Para mim é mais uma desculpa que outra coisa. Me parece contrário a tudo o que constato, pois, com poucas exceções, somos bichos extremamente apaixonados pela repetição. Nossa regra geral é a mesmice. Então não vejo por que a mesmice seria broxante. Minha idéia é que o interesse sexual se perde por preguiça.

Preguiça de transar?

É preciso esforço para manter a vida sexual. O sexo é um trabalho. Não no sentido de [aponta para o relógio] “ah, agora vou para o escritório”. Mas, se você não mantém fantasias sexuais andando na sua cabeça, num dado momento a atividade sexual morre. Nossa sexualidade não tem nada de natural, é ligada a fantasias e só funciona com elas. A quantidade de casais que param de transar e se queixam como se fosse “eu deveria tomar Viagra” é imensa. Mas o primeiro Viagra é pensar em sexo.

É mais fácil viver sozinho ou a dois?[Longa pausa]

É difícil responder por causa desse “mais fácil”. Acho que cada um deve descobrir se, para ele ou para ela, é mais agradável viver sozinho ou a dois. Qualquer escolha é legítima, o problema é que todas têm um custo. Eu acabo de pedir um Guaraná Diet e poderia envenenar a bebida com o lamento da Coca que não pedi. A maior lição da psicanálise é esta: qualquer desejo implica perdas.

terça-feira, 15 de março de 2011


FANATISMO

Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão de meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!

Não vejo nada assim enlouquecida…
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!

“Tudo no mundo é frágil, tudo passa…”
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!

E, olhos postos em ti, vivo de rastros:
“Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: princípio e fim!…”


(Florbela Espanca)

Mulheres


Galldino - Sarabande: cri, por ela crer.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Frases Lacan


"O desejo enquanto real não é da ordem da palavra e sim do ato."

"Todo amor é recíproco, mesmo quando não é correspondido."

LACAN

sábado, 12 de março de 2011

Expressão do meu ser



Sou intensa,

Sou impulsiva,

Amo demais.

O outro se encanta,

Bebe da minha intensidade,

Experiência minha impulsividade e

recebe amor demais.

Ao final, afoga-se e enjoa-se

E não que mais receber amor,

Apenas quer ficar com o seu,

Para não se perder e não afogar-se.

Fica com algo morno e medíocre,

Com a segurança de não viver um grande amor e não ser amado intensamente.

A. F. S.

quarta-feira, 9 de março de 2011


Talento é quando um atirador atinge um alvo que os outros não conseguem. Gênio é quando um atirador atinge um alvo que os outros não vêem.



Uma pessoa de raros dons intelectuais, obrigada a fazer um trabalho apenas útil, é como um jarro valioso, com as mais lindas pinturas, usado como pote de cozinha.


Arthur Shopenhauer