quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

"Nós somos uma bobagem. O interessante é que a psicanálise não nos obriga a ser uma maravilha. A psicanálise faz com que nós que somos uma bobagem podemos ser uma maravilha sendo uma bobagem".
(Jorge Forbes).

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Desejo Materno

"Freud, aliás, contribuiu com essa crenças de filho-felicidade do casal, interpretando o desejo materno de ter um filho como uma tentativa de amenizar, na idade adulta, as penas e dores da menininha que descobre-se privada deste suplemento de carne que ela descobre em seu irmão, seu pai ou em seu amiguinho. A criança, assim, só pode trazer reparação, compensação, preenchimento e, portanto, alegrias e satisfações para a mãe, consequentemente para o casal no qual ela surge."
(Patrick De Neuter)

domingo, 13 de dezembro de 2009

(“Mas por que sua escolha recaiu sobre essa mulher?”, “O que foi que você viu nela e não em qualquer outra mais bonita, mais perfeita, mais cuidada do que a sua Antônia?”, ele não saberia responder).

A escolha erótico-amorosa não é de ordem egóica, nem superegóica, embora o supereu tenha uma participação importante na dimensão dos ideais, também presente no amor-paixão. Não se pode nem dizer que o objeto do amor erótico se defina a partir de uma escolha, a não ser na medida em que o destino do eu é escolhido pelas formações do inconsciente (à maneira da “escolha de neurose” freudiana). Assim, a pergunta “Por que esta mulher (este homem) e não outra (o) qualquer?” só pode ser respondida a partir de um saber que não se sabe, à maneira de Montaigne, parodiado por Chico Buarque: “Porque era ela, porque era eu”.
(Maria Rita Kehl)

Diferenças

Não é impossível então, que na medida em que as mulheres se livraram de algumas restrições sexuais e existenciais impostas pela moral vitoriana, a linha demarcatória entre a masculinidade e a feminilidade tenha se deslocado – forçando os homens, por enquanto, a jogar na defensiva. Freud já havia percebido a existência de um hiato na complementariedade imaginária entre homens e mulheres, a ponto de perguntar a sua amiga Marie Bonaparte: mas afinal, o que quer uma mulher? Pergunta que repercutiu em todas as geraçaões de psicanalistas, sobre tudo homens. Ora: é claro que ninguém pode saber o que deseja uma mulher. O desejo é, por definição, inconsciente. Um homem também desconhece seu próprio desejo.
Quanto ao suposto mistério do querer feminino, este que se manifesta através de fantasias triviais e de pequenas reivindicações dirigidas ao outro – bem, nesse caso qualquer mulher pós-freudiana poderia responder: eu quero o mesmo que você, seu bobo. Você só não percebe porque não quer saber que eu sou sua semelhante, sua rival, sua irmã.
E nesse caso, a diferença sexual continua um mistério – para os homens e para as mulheres. (Kehl)

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

"Só os fatos da infância explicam a sensibilidade aos traumatismos futuros e só com o descobrimento desses restos de lembranças, quase regularmente olvidados, e com a volta deles à consciência, é que adquirimos o poder de afastar os sintomas." (Freud).

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

"O imaginário não alcança o Real,
não produz tantos imprevistos.
No caminhar da análise percebe-se a delícia que é abandor o imaginário e supreender-se com o Real e com a vida." Andressa Furquim

Mistério do desejo



"Vale ainda mencionar o estranho silêncio, nos consultórios dos analistas, em torno do eterno mistério do desejo e da diferença sexual. A falta de objeto que caracteriza a atração erótica parece ter sido ofuscada pela onipresença de imagens sexuais nos outdoors, na televisão, nas lojas, nas revistas – por onde olhe, o sujeito se depara com o sexual desvelado que se oferece e o convida. As fantasias sexuais são todas prêt-à-porter. Seria ok, se o suposto desvelamento do mistério não produzisse sintomas paradoxais. O tédio, em primeiro lugar, entre jovens que se esforçam desde cedo para dar mostras de grande eficiência e voracidade sexuais. As intervenções cirúrgicas no corpo, de consequências por vezes bizarras, em rapazes e moças que pensam que a imagem corporal perfeita seja a solução para o mistério que mobiliza o desejo. A reificação do sujeito identificado como mais uma mercadoria se revela no medo generalizado de não agradar.
O mistério do desejo persiste, assim como não deixa de existir o inconsciente: mas é como se suas manifestações não interrogasem mais os sujeitos." (Kehl

quinta-feira, 26 de novembro de 2009


A linha divisória entre homens e mulheres, pelo visto, perdeu sua antiga fixidez, trazendo mobilidade e liberdade para ambas as partes. Se o falo não é um pênis e sim um significante, seu manejo está franqueado a homens e mulheres. Só que, ao insistir em sustentar a equação pênis=falo, os homens acabam por se colocar em uma posição muito mais frágil do que as mulheres. Estas recém descobriram, por conta da própria psicanálise, que o órgão masculino só possui o valor fálico que elas lhe conferirem.



Não é impossível então, que na medida em que as mulheres se livraram de algumas restrições sexuais e existenciais impostas pela moral vitoriana, a linha demarcatória entre a masculinidade e a feminilidade tenha se deslocado – forçando os homens, por enquanto, a jogar na defensiva. Freud já havia percebido a existência de um hiato na complementariedade imaginária entre homens e mulheres, a ponto de perguntar a sua amiga Marie Bonaparte: mas afinal, o que quer uma mulher? Pergunta que repercutiu em todas as geraçaões de psicanalistas, sobre tudo homens. Ora: é claro que ninguém pode saber o que deseja uma mulher. O desejo é, por definição, inconsciente. Um homem também desconhece seu próprio desejo.

(Maria Rita Kehl)

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Histerica x Obsessivo - O corpo.


"Quantas vezes em nossa clínica nos deparamos com mulheres, jovens ou não, de grande beleza, que de imediato se percebe não ter para elas o menor valor? Carregam a beleza assim, como se fosse apenas mais um fardo que as impedisse de passar desapercebidas. Isso é para matar de inveja a histérica, cuja beleza, natural ou não, tem sempre que ser reconstruída diante do espelho, tomando como referencial esse ângulo de visão outro, que em vão a orienta sobre quais imperfeições corrigir, sem que ela pareça jamais conseguir disfarçar o defeito. Já que o defeito que afeta o corpo da histérica refere-se a uma falha, à tomada imaginária de uma falta, enquanto parece que o corpo do obsessivo, aos seus olhos, padece de um excesso.




Uma jovem analisante falava outro dia de suas "ganas de matar" a irmã mais nova. O que a exasperava, eram as horas que ela própria passava se arrumando - "se produzindo"- era a expressão, aliás que parece perfeita, entre outras razões, porque como numa produção de teatro, ela também escolhia o guarda-roupa, os adereços, de acordo com o personagem. Isso, para no fim sair sua irmã "de cara lavada, sem nem se olhar no espelho" indignava-se ela, "parecendo uma princesa de contos de fada". Se o nosso tema fosse a histeria, este fragmento nos daria um bom viés par abordar o problema da reivindicação. Mas, em se tratando de obsessão, cabe a pergunta: por quê uma moça dispensaria os recursos que lhe permitiriam destacar seus atributos? Eu diria que não é garantido que a beleza não possa ser vivida por ela, às vezes como inútil ou mesmo ofensiva. Creio que seria assim porque uma beleza "em excesso" é algo que irrompe aos olhares, que se sobressai, põe em relevo esse corpo que a obsessiva, talvez o obsessivo em geral gostaria de ver absorvido numa topografia mais plana, mais simétrica e sem acidentes que convoquem demasiado o olhar."


(Angela Valore - O Corpo na Neurose Obsessiva.)

sábado, 21 de novembro de 2009


Oferecendo um tratamento pela via do desejo, a psicanálise torna possível para o sujeito o caminho que parte da dor de existir e segue em direção à alegria de viver. Para isto, todavia, é necessário que o sujeito queira saber, tendo a coragem de se confrontar com a dor que morde a vida e sopra a ferida da existência, a fim de fazer da falta que dói, a falta constitutiva do sujeito”

(Quinet)

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

"Não poríamos a mão no fogo pelas nossas opiniões: não temos assim tanta certeza delas. Mas talvez nos deixemos queimar para podermos ter e mudar as nossas opiniões."
(Friedrich Nietzsche).
"É necessário ter o caos aqui dentro para gerar uma estrela." (Nietzsche)
"A capacidade de estabelecer “relações de compreensão” que correspondam a uma “intencionalidade” a partir de uma “imagem ideal do eu”; os progressos individuais condicionados ao progresso dialético do pensamento; a capacidade de reconhecer a si mesmo como responsável pelas consequências de suas escolhas e seus atos e responder por eles perante a comunidade – nossos atos “nos pertencem e nos seguem”, escreve Lacan – capacidades adquiridas ao longo de uma vida em que o sujeito representa a si mesmo como autor de seu destino, tudo isso compõe a personalidade. “O que se entende quando se afirma que alguém tem personalidade”, afirma Lacan, tem a ver com a autonomia da conduta daquele que se responsabiliza perante os demais tanto por suas intenções quanto pelas consequências de seus atos." (KEHL)
Ao Real impossível de Lacan os agrupamentos humanos respondem com a criação social de uma realidade que funciona, organiza os lugares e os poderes, nos permite viver e conviver. Uma realidade social que também é criadora de subjetividade, já que o sujeito só emerge do puro estado de corpo/coisa em que vem ao mundo ao ser inserido pelo Outro nas práticas discursivas – não necessariamente palavreiras – do mundo a que pertence. (KEHL,M.R.)

segunda-feira, 16 de novembro de 2009


"Todo o efêmero
é apenas uma aparência.
O inacessível
aqui se torna acontecimento.
O indescritível
aqui é feito.
O Eterno-Feminino
para o alto nos arrasta."

Goethe

sábado, 14 de novembro de 2009

"O psicanalista, suscitando a verdade do sujeito, suscita ao mesmo tempo o sujeito e a sua verdade." (DOLTO)

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

"Durante o sono, o sujeito que sonha se encontra em linha direta com o
Outro na medida em que o inconsciente é o discurso do Outro.
No pesadelo, o sujeito desperta em estado de angústia, por perceber que
está sendo esmagado e reduzido à condição de objeto de gozo do Outro."

(Jaime Betts)

quinta-feira, 12 de novembro de 2009


"O tempo nos pertence – mas de maneira geral, não somos capazes de simplesmente estar nele. Assim “nós o matamos, o dissipamos, o desperdiçamos ”. Ao descartá-lo como um “tempo que passa”, ao nos fechar para o “fluxo da duração”, acabamos por nos instalar, não no tempo do tédio, mas no da estagnação. O tempo estagnado, “fechado para o fluxo da duração”, é o tempo do presente absoluto – tempo do esquecimento, portanto. “...com o passado essencial caindo em esquecimento, fecha-se o horizonte possível para toda anterioridade. O agora só pode permanecer agora .” Ora: o bloqueio do passado compromete também a fantasia do futuro." (Kehl, M. R.)

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

"Ontem você estava aqui
sentado ao meu lado
quieto, silencioso, parado...
Você é meu traço,
meu rabisco, meu rascunho.
Uma fita, um laço.
Seu colo meu descanço,
seu ombro, meu cansaço.
No seu colo eu me desfaço,
e me recomponho
atrás de seus passos.
Com você eu sou completa,
habitada e deserta.
Sem você eu sou vazia
desacompanhada e sozinha.
E hoje assim estou.
Você se foi, me deixou
Não sei se por penitência ou pecado
Só sei que ontem eu estava inteira
com você ao meu lado."

domingo, 8 de novembro de 2009


"Já escondi um AMOR com medo de perdê-lo, já perdi um AMOR por escondê-lo. Já segurei nas mãos de alguém por medo, já tive tanto medo, ao ponto de nem sentir minhas mãos. Já expulsei pessoas que amava de minha vida, já me arrependi por isso. Já passei noites chorando até pegar no sono, já fui dormir tão feliz, ao ponto de nem conseguir fechar os olhos.Já acreditei em amores perfeitos, já descobri que eles não existem.Já amei pessoas que me decepcionaram, já decepcionei pessoas que me amaram.


Já menti e me arrependi depois, já falei a verdade e também me arrependi. Já fingi não dar importância às pessoas que amava, para mais tarde chorar quieta em meu canto. Já sorri chorando lágrimas de tristeza, já chorei de tanto rir. Já acreditei em pessoas que não valiam a pena, já deixei de acreditar nas que realmente valiam.


Já gritei quando deveria calar, já calei quando deveria gritar. Muitas vezes deixei de falar o que penso para agradar uns, outras vezes falei o que não pensava para magoar outros. Já fingi ser o que não sou para agradar uns, já fingi ser o que não sou para desagradar outros.


Já cai inúmeras vezes achando que não iria me reerguer, já me reergui inúmeras vezes achando que não cairia mais. Já liguei para quem não queria apenas para não ligar para quem realmente queria. Já corri atrás de um carro, por ele levar embora, quem eu amava.


Já chamei pessoas próximas de "amigo" e descobri que não eram... Algumas pessoas nunca precisei chamar de nada e sempre foram e serão especiais para mim."


(adaptações de Clarice Lispector).

SAUDADES

"Sinto saudades de tudo que marcou a minha vida.
Quando vejo retratos, quando sinto cheiros,quando escuto uma voz, quando me lembro do passado,eu sinto saudades...
Sinto saudades de amigos que nunca mais vi,de pessoas com quem não mais falei ou cruzei (...)
Sinto saudades do presente,que não aproveitei de todo,lembrando do passado e apostando no futuro...Sinto saudades do futuro,que se idealizado,provavelmente não será do jeito que eu penso que vai ser...
Sinto saudades de quem me deixou e de quem eu deixei! De quem disse que viria e nem apareceu; de quem apareceu correndo, sem me conhecer direito, de quem nunca vou ter a oportunidade de conhecer.
Sinto saudades dos que se foram e de quem não me despedi direito! Daqueles que não tiveram como me dizer adeus; de gente que passou na calçada contrária da minha vida e que só enxerguei de vislumbre!
Sinto saudades de coisas que tive e de outras que não tive mas quis muito ter! Sinto saudades de coisas que nem sei se existiram. (...)
Sinto saudades das coisas que vivi e das que deixei passar, sem curtir na totalidade.
Quantas vezes tenho vontade de encontrar não sei o que...não sei onde...para resgatar alguma coisa que nem sei o que é e nem onde perdi..."
(Clarice Lispector)

Não Entendo!


"Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo."
(Clarice Lispector).

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

"O amor é uma alegria que acompanha a idéia de uma causa exterior." (Spinoza).
"Contentem-se em aceitar sua singularidade."

(Lacan, 1960)

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Paixão e Amor

"É interessante, então, fazer uma distinção entre paixão, sentimento intenso e súbito, arrebatador, que domina a vontade e distorce a percepção objetiva, em que o objeto amado resulta mais da projeção de nossos impulsos e fantasias do que sua real condição, estado amoroso muito próximo do narcisismo e da onipotência, na qual qualquer manifestação do “outro”, como pessoa real, pode produzir uma “fúria narcísica”, estado de duração habitualmente efêmera, que poderá resultar ou não no amor. O amor é, em contraste, uma relação em que a escolha do objeto se dá de uma maneira mais real, de um curso mais lento e duradouro, no qual o respeito pelo “outro”, incluindo a aceitação das limitações deste, poderá ser melhor tolerado."

(OUTEIRAL)

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

" Há muito disseram que a coisa mais inútil do mundo era pôr uma mulher à prova; sendo tão conhecidos os meios de fazê-la sucumbir, e tão certa sua fraqueza, as tentativas tornam-se absolutamente supérfulas.
As mulheres, assim como as cidades de guerra, têm todas, um lado indefeso: trata-se apenas de procurá-lo."
(Sade, Os crimes do Amor.)

AMOR?

"Oh! Como é falsa essa embriaguez que, absorvendo os resultados das sensações, coloca-nos num tal estado que nos impede de enxergar, que nos impede de existir senão para esse objeto loucamente adorado! É isso, viver?
Não será, antes, uma privação voluntária de todas as doçuras da vida? Não será permanecer voluntariamente, nas garras de uma febre arrasadora que nos devora e absorve sem nos deixar outra felicidade que os gozos metafísicos tão semelhantes aos efeitos da loucura?"
(Marquês de Sade).*



*(Dolmancé, personagem de Sade em A Filosofia na Alcova)

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

"Onde falta o ser, proliferam os discursos. O homem moderno é um pesquisador minucioso das coisas humanas e um autor compulsivo de sua própria biografia. Confessa-se, descreve-se, explica-se, tenta fixar em palavras faladas ou escritas a permanente incerteza sobre quem ele é. O ser não nos é dado; o ser se constrói, ao longo da vida. Construir o ser é constituir diferenças. A diferença entre homens e mulheres, objeto de investigações filosóficas desde a antiguidade, foi investida de uma enorme quantidade de saberes que procuravam encontrar na natureza dos gêneros alguma espécie de verdade sobre o ser."

(MARIA RITA KEHL)
"Não estou ali, afinal de contas, para o seu bem, mas para que ele ame. [...]"

(LACAN, 1961)

sexta-feira, 23 de outubro de 2009


"O ciclo inexorável da vida, o nascimento e a morte colocam para cada sujeito uma espécie de confronto consigo mesmo: o que se é e o que se foi, as marcas e as limitações que o tempo grava, o luto de si mesmo. A imagem cativante, forma de investimento narcísico de cada um, sofre o mesmo destino de todas as coisas."

(ROCHELLE GABBAY)

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

"O que significa dizer que nós, neuróticos comuns, organizamos mentalmente nossas histórias de vida como se fossem romances? Antes de mais nada, que não suportamos o caos, a errância, a passagem do tempo nos conduzindo onde não podemos prever e nos modificando de maneiras que não conseguimos controlar. Mas significa também que pertencemos a um tipo de sociedade em que o tempo de fato modifica as pessoas, uma sociedade que permite e até promove que o rumo tomado por uma vida se distancie tanto de sua origem que, se não produzirmos algum fio narrativo ligando começo, meio e fim, algumas representações que nos sustentam subjetivamente perderão completamente o sentido. A idéia de que somos “indivíduos”, por exemplo, coesos e reconhecíveis ao longo do tempo; a idéia de que a vida que vivemos constitui uma unidade coerente e dotada de sentido e não uma sucessão de dias transcorridos a esmo.[...]"

(Maria Rita Kehl)

Individuação

A individuação de cada um segundo seus gestos, seus desejos, suas capacidades, o repeito pelas diferenças que, só elas, permitem que cada ser humano desenvolva o melhor de si mesmo, desenvolvendo cada um suas características pessoais segundo seus desejos e os prazeres criativos e comunicativos que deles extrai, tal deveria ser a educação de cada criança, não só em familía mas durante todo o tempo de formação.

(Dolto, 1998)

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Desejo que

"Aceitar deixar passar sem pegar, sem reijeitar, ver, ouvir, olhando, escutando até sem entender, é aceitar a solidão, misturado aos outros. É reconhecer-se humano, desejo manado na carne, desejo que, na cabeça, no coração, fala as entranhas, ao sexo, clama, desejo que ouve o dos outros, desejo encarnado sempre, que se conhece para sempre separado, no espaço, dos objetos que o suscitam no tempo, dos frutos de suas realizações, das consequências incognoscíveis de seus atos, posto que os mais materializados, que dirá os sutis cujos os fins nos escapam e que nosso desejo quereria dominar."

(Françoise Dolto; Solidão, 1998)

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

A cura da Psicanálise

" Quem faz uma verdadeira análise se submete a uma das maiores aventuras da sua existência, que implica mesmo uma morte simbólica e um novo nascimento, causa de profunda mudança. Saber do inconsciente possibilita se libertar dos laços imaginários que prendem à neurose, faz conhecer a causa do próprio sofrimento e compreender que a vida é transitória, que o instante é fugaz que o tempo não espera, que o viver é agora. Consequentemente, possibilita amar de um modo novo. Isso é algo além do que se pode chamar de terapêutico".
(Jorge Sesarino, 2007 - A cura da Psicanálise. In: A Eficácia da Cura em Psicanálise. Curitiba: Editora CRV, 2009)
"Finalmente a análise começa quando a verdade é posta em jogo". (Lacan, 1995).

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Sofrimento e dor

"Mas é também a experiência dolorosa passada que nos faz viver cada uma das nossas dores de modo único e individual. O vivido de uma dor é sempre o vivido da minha dor. Cada um sofre à sua maneira, qualquer que seja o motivo de seu sofrimento. Todas as vezes que uma dor nos aflige, venha ela do corpo ou do espírito, ela se mistura inextricavelmente à mais antiga dor que revive em nós. É justamente essa ressurgência viva do passado doloroso que faz minha dor desse instante. A dor que sinto é realmente a minha dor, uma vez que ela carrega o estigma do mais íntimo do meu passado."

(Nasio, 2008)

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

"Todo desejo é sempre discutível por outrem, mas quando se une ao amor, torna o ser humano que assume inteiramente sua opção não um ser de razão e prudência, mas um ser responsável por todas as resultantes dessas contradições."
(Dolto,1998)

quinta-feira, 8 de outubro de 2009



"No caso de qualquer indivíduo no início do processo de desenvolvimento emocional, há três coisas: em um extremo há a hereditariedade; no outro extremo há o ambiente que apóia ou falha e traumatiza; e no meio está o indivíduo vivendo, se defendendo e crescendo. Em psicanálise nos ocupamos do indivíduo vivendo, se defendendo e crescendo". (WINNICOTT, 1959).

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Compreender tudo não é perdoar tudo

Pelo contrário compreender tudo não é perdoar tudo. A análise nos ensina não apenas o que podemos suportar, mas também o que podemos evitar. Ela nos diz o que deve ser eliminado. A tolerância com o mal não é de maneira alguma um corolário do conhecimento.

(Freud)

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Nossos complexos são a fonte de nossas fraquezas; mas, com frequência também são a fonte de nossa Força.
(FREUD)

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

"O diálogo que leva ao amor, que dá a cada um a vontade de se arriscar, não surge da sedução e do charme mas da coragem de nos apresentarmos por nossas falhas, feridas e perdas."


"Ser feliz não é tão importante, mais vale ter uma vida interessante".

(Contardo Calligaris)
“Jamais você me olha lá de onde te vejo, inversamente, o que olho nunca é o que quero ver”
(LACAN)

terça-feira, 22 de setembro de 2009

"Para a medicina, o sintoma, que leva o sujeito ao consultório, é um transtorno que acarretará, na maioria das vezes, uma medicação de eficácia consagrada. Tudo muito simples e eficiente; mas, a lida diária com o medicar deixa clara a complexidade da situação, e que o caminho para eficácia é árduo.

[...] É necessário considerar a subjetividade presente no sintoma: a história e singularidade de cada um. O sofrimento psíquico não se restringe às questões genéticas e neuroquímicas. A dor psíquica não se reduz a uma pane ou falha no sistema neuroquímico cerebral, que psicofármacos ajustariam e equilibrariam. Ela surge entre desejos e escolhas; satisfações e frustrações; esperanças e decepções."

Galvão, Manuel Dias

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Pulsão

[...] De uma maneira geral, são os mesmos órgãos e os mesmos sistemas de órgãos que estão à disposição das pulsões sexuais e das pulsões do eu.
O prazer sexual não está ligado simplesmente à função dos órgãos genitais;
a boca serve tanto para o beijo quanto para comer e para comunicar a fala,
os olhos não percebem somente as modificações do mundo externo importantes para conservação da vida, mas também aquelas propriedades dos objetos que os alçam à categoria de objetos de escolha amorosa, isto é, seus atrativos.
(Freud, 1915).



Insatisfação

"[...] É claro que aqueles com que temos que tratar, os pacientes, não se satisfazem, como se diz, com o que são. E, no entanto, sabemos que tudo o que eles são, tudo o que eles vivem, mesmo seus sintomas, dependem da satisfação ... eles não se contentam com seu estado, mas, estando nesse estado tão pouco contentador, eles se contentam assim mesmo." (Lacan, 1964).
" O real se distingue por sua separação do campo do princípio do prazer, por sua dessexualização." (Lacan.)

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Amizade


"[...]Contudo, o amigo pretende se criar e transformar a si próprio. A amizade precisa suportar diferenças extremas, o inusitado que se apresenta como adversidade; e não espera que só venham formas de um único amor para unir os amigos. As amizades são feitas de um material mais duro, de diferenças e de dissenções."

Chaim Samuel Katz
"O caráter de um homem é formado pelas pessoas que escolheu para conviver."
(FREUD)

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

O sintoma do homem é a mulher.
O sintoma da mulher é o homem.

(Lacan)

terça-feira, 1 de setembro de 2009

" O que se nos demanda ... é a felicidade. Não trago nada de novo - uma demanda de felicidade ... é disso que se trata".
(Lacan.)
"Sempre esperamos que nossos pacientes terminem a análise e nos esqueçam, e descubram que o próprio viver é a terapia que faz sentido."
(Winnicott, 1969).
"Todo amor se baseia numa certa relação entre dois saberes inconscientes."
(Lacan)

quarta-feira, 26 de agosto de 2009


"Freudianamente falando, a subjetividade é um canteiro de ilusões. Amamos: a vida, os outros, e sobretudo a nós mesmos. Estamos condenados a amar, pois com esta multiplicidade de laços libidinais tecemos uma rede de sentido para a existência. As diversas modalidades de ilusões amorosas, edipianas ou não, são responsáveis pela confiança imaginária que depositamos no destino, na importância que temos para os outros, no significado de nossos atos corriqueiros. Não precisamos pensar nisso o tempo todo; é preciso estar inconsciente de uma ilusão para que ela nos sustente."

(Maria Rita Kehl)

terça-feira, 25 de agosto de 2009

" Não há sintoma senão na medida em que o sujeito se defende de seu desejo"
(Melman).

domingo, 23 de agosto de 2009

"A angústia é a única fonte da criação"

(Jacques Lacan)

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Repetição

A repetição é o que torna o sujeito prisioneiro. Repetição das mesmas escolhas, das pessoas em torno de si, dos mesmos tipos de amores. Na psicanálise a repetição é a pulsão de morte.
Parar e pensar a repetição, o que fazer com isto, o porquê disto. Saber que a culpa da repetição, do nunca dar certo não está nos outros, mas no próprio indivíduo.
É o que pode possibilitar a novas saídas, novos caminhos para seguir a vida, ou continuar na repetição por opção.
Andressa Furquim de Souza

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Tédio



"Sentir-se entediado é um estado normal e entediar o outro é um sintoma de doença psiquiátrica." (Outeiral)
"... se uma pessoa vem falar com você e, ao ouvi-la, você sente que ela o está entediando, então ela está doente e precisa de tratamento psiquiátrico. Mas se ela mantém seu interesse independentemente da gravidade do seu conflito ou sofrimento, então você pode ajudá-la."( Donald Winnicott)

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

O que nos demandam, é preciso chamá-lo por uma palavra simples, é a felicidade” [...] “Que o analista se ofereça para receber, é um fato, a demanda da felicidade”.
(Lacan)

"Mais além da miséria neurótica, mais além da infelicidade banal, mais além da tristeza, da covardia moral, para aqueles que se tenham decidido, quem sabe, se, não um desejo inédito, pelo menos novos efeitos de desejo."
(Angela Maria de Araujo Porto Furtado)

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Reconhecimento

" Não é possível conceber qualquer relação humana em que não esteja presente a necessidade de algum tipo de mútuo reconhecimento, o qual é vital para a manutenção da auto-estima e a construção de um definido sentimento de identidade. Assim, até mesmo qualquer pensamento, conhecimento ou sentimento requer ser reconhecido pelos outros, de forma análoga à que acontece na relação bebê-mãe, e isso se torna fator fundamental para o sujeito adquirir o sentimento de existência.[...}"

David Zimerman

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

O tempo e o ser

Quem fomos ontem, não somos hoje e quem somos hoje, não seremos amanhã.

(Outeiral)

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

ÓDIO E VIOLÊNCIA

O ódio como originário do desprazer causado pela sensação de insuficiência e pela
necessidade de intrusão de um objeto externo. É por esta experiência de desprazer e
desconforto (que Freud assimila ao ódio) que se produz o processo de subjetivação. A
origem do sujeito está, portanto, ligada ao processo de diferenciação entre o interno e o externo, através da rejeição e ao mesmo tempo da necessidade, das excitações vindas
de fora e que provocam tensões internas ocasionando mal estar. Portanto, para o
nascimento da vida interior o desprazer é necessário. Este desprazer que irrita, visto por Freud como ódio, pode tornar-se agressividade ou propriamente raiva quando se liga às pulsões sexuais e se volta ativamente contra o objeto ao qual o eu se sente
amorosamente ligado. Já o ódio como destrutividade tem a ver com a introdução da
pulsão de morte, que age por rupturas, e que irá impossibilitar as ligações próprias a
Eros."

Carmen Da Poian

sábado, 1 de agosto de 2009

SONHO

"O sonho, que na Antigüidade Clássica era associado ao mundo dos seres sobre-humanos como algo introduzido pelo divino ou pelo demoníaco, torna-se a partir de Freud uma produção essencialmente natural e principalmente com a intenção de realizar desejos inconscientes.

Enquanto dormimos não sabemos que estamos sonhando. Vivemos uma realidade onírica tão verdadeira naquele momento quanto a vida diurna. Durante o sonho parece que fazemos parte de uma lógica que quando confrontada com a realidade não faz sentido algum."

Liliana Barros Tavares

sexta-feira, 31 de julho de 2009


"Ninguém pode construir em teu lugar as pontes que precisarás passar, para atravessar o rio da vida.

Ninguém, exceto tu, só tu.

Existem, por certo, atalhos sem números, e pontes, e semideuses que se oferecerão para levar-te além do rio; mas isso te custaria a tua própria pessoa; tu te hipotecarias e te perderias.

Existe no mundo um único caminho por onde só tu podes passar.

Onde leva?

Não perguntes, segue-o!"


(Friedrich Nietzsche)

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Alternância

"O momento único em que o sujeito se sente completo, “extremamente feliz”, é na primeira infância. Ele sempre vai procurar algo para se satisfazer, mas isso nunca será pleno, a vida se alterna entre felicidade e infelicidade. Sempre estaremos à deriva da dor, mesmo quando a mascaramos com outras alternativas."
Andressa F. de Souza

segunda-feira, 27 de julho de 2009

"A transição se faz de tal modo que desmente a idéia de uma falta na relação com a lei, com o simbólico. Quando o presidente atual diz o que ele diz sobre o novo presidente, ele legitima fortemente a transição, pois sentimos que remete a uma posição estabelecida na própria lei. A segunda coisa que eu poderia responder é que, se realmente podemos reconhecer rupturas fortes do laço social nas atitudes de certas camadas sociais em relação a outras, isso não se constitui, atualmente, em um fenômeno particular do Brasil. A questão é muito mais grave, é um problema para o mundo inteiro. Os homens atualmente crêem que toda a relação pode ser pensada como uma relação com um objeto. Como a técnica permite intervir sobre o corpo humano como se ele fosse um objeto, é o homem mesmo que se torna um objeto. A partir disso, se vê que a condição de uma lei, quer dizer, o exercício de uma regulação simbólica, pode ser problemática em todos os países. O que se torna mais preocupante ainda."
Roland Chemama

sexta-feira, 24 de julho de 2009

ESCUTA

"[...] No alicerce de toda palavra, é a pulsão que insiste. Aquela que não fala, mas que é evocada pela palavra e que, levada pela compulsão à repetição, procura satisfazer-se. É seguindo de perto as repetições que acompanhamos as vicissitudes da pulsão e rastreamos as pegadas das identificações.

Diria então que, do lugar do analista, se escuta tudo, para poder escutar alguma coisa. Coisa essa que é o inconsciente, que no seio da repetição insiste para ser escutado, que na trama dos movimentos imaginários se disfarça, se fantasia e, no entanto, vai tecendo o fantasma. [...]"
(Silvia Leonor Alonso)

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Castração

Um dos objetivos da experiência analítica é, com efeito, possibilitar e reativar na vida adulta a experiência que atravessamos na infância: admitir com dor que os limites do corpo são mais estreitos do que os limites do desejo. (Nasio).

Felicidade


"A felicidade é uma realização retarda de um desejo pré-histórico.É por essa razão que a riqueza traz tão pouca felicidade,o dinheiro não foi um desejo da infância."
(FREUD)

quarta-feira, 22 de julho de 2009

"Finalmente, a gente faz apenas aquilo que pode."
(W. Bion)

sábado, 18 de julho de 2009

Vê-se nos outros o que é negado em si.
Andressa F. de Souza

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Chega-se na análise pelo sofrimento. Sofrimento daquilo que foi dito, do rótulo que se carrega. Com o decorrer do tempo descobre a verdade de si e sobre o desejo.
A possibilidade ser o que é e bancar isso sem medo.
Andressa F. de Souza

quarta-feira, 15 de julho de 2009

A psicanálise é em essência uma cura pelo amor


“Por uma lógica singular, o sujeito apaixonado percebe o outro como um Tudo (a exemplo de Paris outonal), e , ao mesmo tempo, esse Tudo parece comportar um resto que não pode ser dito. E o outro tudo que produz nele uma visão estética: ele gaba a sua perfeição, se vangloria de tê-lo escolhido perfeito; imagina que o outro quer ser amado como ele próprio gostaria de sê-lo, mas não por essa ou aquela de suas qualidades, mas por tudo, e esse tudo lhe é atribuído sob a forma de uma palavra vazia, porque Tudo não poderia se inventariado sem ser diminuído: Adorável! não abriga nenhuma qualidade, a não ser o tudo do afeto. Entretanto, ao mesmo tempo que adorável diz tudo, diz também o que falta ao tudo; quer designar esse lugar do outro onde meu desejo vem especialmente se fixar, mas esse lugar não é designável; nunca saberei nada; sobre ele minha linguagem vai sempre tatear e gaguejar para tentar dizê-lo, mas nunca poderá produzir nada além de uma palavra vazia, que é como o grau zero de todos os lugares onde se forma o desejo muito especial que tenho desse outro aí (e não de um outro).”

Freud afirma que ‘a psicanálise é em essência uma cura pelo amor’!

Mas, que espécie de amor/aproximação é esta? (na análise)

Diríamos que a isto que Freud dá o nome de amor poderia ser pensado como todas as nossas condutas que, conscientemente ou não, sintetizam a nossa ética, que num resumo um tanto grosseiro, significam: saber que o sofrimento é algo inerente à condição humana, que não podemos viver no lugar do outro algo que lhe é próprio, que não podemos apartar o sofrimento de quem quer que seja , no máximo, acompanhá-lo.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Verdade e Saber

"É importante distinguir duas coisas que, para um psicanalista, são bem diferentes: o saber e a verdade. O mundo contemporâneo nos faz acreditar que o mais importante é a acumulação de saberes. Esse acúmulo, no entanto, faz com que o sujeito ignore a questão de seu desejo. Ao mesmo tempo, a questão da verdade se coloca mais na literatura e na filosofia. Não digo que a literatura seja suficiente para dar ao sujeito a resolução de seus problemas, mas permite pensar alguma coisa que não se reduz ao saber positivo, técnico. Precisamente, a psicanálise não busca a eficácia técnica. A psicanálise não é um tratamento semelhante a tomar ou prescrever um medicamento. Ela deve abrir alguma coisa, expor uma dimensão de verdade e não ser o objeto de um saber."
Fragmento da entrevista de Roland Chemama sobre Sintomas Contemporâneos.

segunda-feira, 13 de julho de 2009


"O amor é tão mais fatal do que eu havia pensado, o amor é tão mais inerente quanto a própria carência, e nós somos garantidos por uma necessidade que se renovará continuamente.

O amor já está, está sempre. Falta apenas o golpe da graça - que se chama paixão".

(Clarice Lispector)

domingo, 12 de julho de 2009

Cinismo

"o que a leitura de Cinismo e falência da crítica esclarece é que ao não crer em nada, o cínico ainda crê na possibilidade de realizar a versão mais infantil da lei: a lei do gozo. A “ética do direito ao gozo” com que Sade inaugurou a modernidade seria a forma mais infantil de obediência a que o cínico está submetido, identificando-se não a um valor, mas a uma atitude.[...]"
(Maria Rita Kehl)

sábado, 11 de julho de 2009

Corpo, Imagem, Desejo

"Sabemos que não. Hoje nos torturamos, antes de tudo, em nome do – desejo. Escravizamos os corpos para tentar fazer deles o objeto incontestável e unânime do desejo. A confiança de nossa cultura na ciência chega a ponto de acreditarmos que a indústria médica e farmacêutica teria desvendado, afinal, o mistério que cerca o objeto do desejo humano. Ao acreditar piamente no poder da imagem, pensamos ter finalmente enquadrado o desejo (inconsciente) sob o domínio do ego: desejar e fazer-se desejar seriam, de acordo com a idolatria pós-moderna, uma questão de perícia técnica.
Não nos deixemos enganar: o que parece uma afirmação triunfante do direito a desejar na verdade é um recuo ante o desejo. É claro que toda sedução, a serviço do desejo sexual, comporta um artifício. Os adornos corporais, os olhares e frases insinuantes, a sensualidade sugerida em gestos e posturas – todos os recursos mobilizados pela sedução visam a produzir, no outro, a esperança de que o sedutor detenha o objeto do desejo que o seduzido desconhece, já que o desejo é, por definição, inconsciente. “Eu sei o que você deseja/ eu tenho o que você deseja”, promete o sedutor com seu jogo de esconder e desvelar. O desejo, por desconhecer seu objeto, é facilmente mobilizado pelo artifício que vela, no corpo, o que de fato não está lá. Nem lá, nem em lugar nenhum."

Maria Rita Kehl,Ciências do desejo: Considerações sobre um saber que não se sabe. Texto disponível em: www.mariaritakehl.psc.br/

sexta-feira, 10 de julho de 2009

SOLIDÃO


"O sentimento de solidão é patológico. A solidão pode ser eugênica: não patológica, poder ser revivicante. O sentimento de solidão é uma provação, e dessa provação pode-se sair negativamente ou positivamente no que diz respeito ao desenvolvimento humanizante do sujeio. Só a solidão permite ultrapassar o estágio do sentimento de solidão. Solidão sentida como fato, reconhecida como valor. O sentimento de solidão não é patológico, mas patogênico. Porque remete à frustração, a famelicidade pela presença do outro, toca às necessidades frustradas, e não somente aos desejos superexcitados. (Dolto, F.; 1998)."

quinta-feira, 9 de julho de 2009

SENTIMENTO DE SOLIDÃO E SOLIDÃO

"O SENTIMENTO DE SOLIDÃO É UM EMPOBRECIMENTO DAS POTENCIALIDADES RELACIONAIS, ENQUANTO

QUE A SOLIDÃO É UM FATO QUE PODE SER ACOMPANHADO POR UM ENRIQUECIMENTO DE

POSSIBILIDADES RELACIONAIS." (DOLTO)

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Frases ...

Algumas frases escutadas durante as aulas de formação em psicanálise:



* O inconsciente é um dizer que está pra além da fala.

* O analista é o capitão de uma nau em um mar revolto.

* Estilo, em psicanálise, é o que cada um conseguiu fazer com a sua falta, com a sua castração. Como cada um lida com a falta.

* Não se faz analise para se descobrir como é. Quem faz análise descobre o que não é.

* A análise deve levar a pessoa a ouvir o seu silêncio.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Minha vida diária, um romance - I

"Todos acabam sempre se tornando um personagem do romance que é a sua própria vida. Para isto não é necessário fazer uma psicanálise. O que esta realiza é comparável à relação entre o conto e o romance. A contração do tempo, que o conto possibilita, produz efeitos de estilo. A psicanálise lhe possibilitará perceber efeitos de estilo que poderão ser úteis a você”. A frase foi dita por Lacan a um jovem candidato a análise e reproduzida por este último em um depoimento publicado alguns anos depois da morte do psicanalista. O sentimento do Unheimliche, do “estranhamente familiar” que frequentemente é provocado pela leitura de algumas frases semi-enigmáticas de Lacan, nos acomete diante desta, também. Como não nos reconhecer neste trabalho através do qual tentamos nos situar como personagens centrais de um romance, o romance de nossas pequenas vidas que escrevemos incessantemente, dentro ou fora do espaço criado pela psicanálise – e como não nos indagar, ao mesmo tempo, sobre o significado desta necessidade?" (Maria Rita Kehl)

sexta-feira, 3 de julho de 2009

terça-feira, 30 de junho de 2009

"Só o que está morto não muda! Repito por pura alegria de viver: A salvação é pelo risco, sem o qual a vida não vale a pena!!!"
(Clarice Lispector)

sexta-feira, 26 de junho de 2009


"Renda-se, como eu me rendi. Mergulhe no que você não conhece como eu mergulhei. Não se preocupe em entender, viver ultrapassa qualquer entendimento." (Clarice Lispector)

quarta-feira, 24 de junho de 2009

“A pseudo- individualidade é um pressuposto para compreender e tirar da tragédia sua virulência. É só porque os indivíduos não são mais indivíduos mas sim meras encruzilhadas das tendências do universal, que é possível reintegrá-los totalmente na universalidade. A cultura de massas revela assim o caráter fictício que a forma do indivíduo sempre exibiu na era da burguesia” . (Maria Rita Kehl)

terça-feira, 23 de junho de 2009

Jovens de hoje

"os jovens não ocupam o espaço oferecido para sua livre expressão porque não têm o que expressar. Sua voz é o mercado, é a publicidade, é a indústria do show-business global. Pensam estar representados pela profusão de imagens da juventude que circulam pelo mundo inteiro dizendo quem eles são, ou quem deveriam ser. Claro que a discrepância entre as imagens e a experiência produz desconforto, mas não é fácil identificar a origem deste mal-estar.[...]

os jovens não ocupam o espaço que lhes é oferecido justamente porque ainda conservam um grão de rebeldia. Recusam o espaço criado para eles e vão inventar seus próprios espaços, em recantos secretos da cidade. "
Maria Rita Kehl

segunda-feira, 22 de junho de 2009

"a história humana é a história dos desejos desejados." (Lacan)

quarta-feira, 17 de junho de 2009

DOR, AMOR

"que dói não é perder o ser amado, mas continuar a amá-lo mais do que nunca, mesmo sabendo-o irremediavelmente perdido" (J. NASIO)

terça-feira, 16 de junho de 2009

Proponho que a única coisa da qual se possa ser culpado, pelo menos na perspectiva analítica, é de ter cedido de seu desejo. (J. Lacan)

Saudades

Saudades,
falta de alguém que não está presente,
que deixou marcas na alma
e lembranças gostosas.
Andressa Furquim

sábado, 6 de junho de 2009

"O inconsciente é o capítulo de minha história que é marcado por um branco ou ocupado por uma mentira: é o capítulo censurado". (Lacan)

quinta-feira, 4 de junho de 2009

O que importa quantos amores você tem se nenhum deles te dá o universo?
Jacque Lacan

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Amor infantil

Assim diz Freud:

" As crianças amam em primeiro lugar a si próprias, e apenas mais tarde é que aprendem a amar os outros e a sacrificar algo de seu eu aos outros. As próprias pessoas a quem uma criança parece amar desde o início, no começo são amadas pela criança porque esta necessita delas e não pode dispensá-las - por motivos egoístas, mais uma vez. Somente mais tarde o impulso de amar se torna independente do egoísmo. É literalmente verdadeiro que seu egoísmo ensinou a amar".
(Sobre o narcisismo: uma introdução).

segunda-feira, 1 de junho de 2009

"O moralista tradicional, quem quer que seja ele, recai invencivelmente na rotina de persuadir-nos que o prazer é um bem, que a vida do bem nos é traçada pelo prazer."
(Jacques Lacan)

domingo, 31 de maio de 2009

Fase oral


"Na fase em que as vivências são estruturadas através da boca, o amor também é recebido e retribuído através das fantasias orais centralizadas na amamentação.

O prazer de ser alimentado e a relação com ele incorporada é a dimensão inicial do amor infantil.
A certeza de que o alimento virá, de que a espera trará o alimento e a mãe amada configura a primeira resposta positiva de afeto que a criança elabora na relação com o mundo externo".
( ERIKSON, E.)

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Brasileiro

"Quem pode, goza dos privilégios de ser brasileiro - o que inclui os benefícios
privados que cada um pode tirar da tão falada “tolerância ética” nacional. O acréscimo ao gozo está em que ninguém se sinta particularmente responsável pelas conseqüências."
Maria Rita Kehl

quarta-feira, 27 de maio de 2009

PAIXÃO


"... os apaixonados estão enamorados ou de si mesmo ou de um outro ideal. E nos dois casos hipnotizados. Sujeitos plenos, sim,porque o amor é um sentimento oceânico, mas pleno do seu próprio discurso amoroso." (LEDA MOTTA)

sábado, 23 de maio de 2009

Depressão, Felicidade

"Tudo cabe debaixo do guarda-chuva da depressão: inibições, angústias, malestares
difusos, fobias, qualquer sofrimento pede abrigo ao termo. O que há em comum
a todas as histórias, é a recorrência de um discurso de que nada, nem ninguém, será
capaz de produzir a felicidade. Chegamos, assim, à definição desta tristeza moderna:
trata-se da dificuldade de lidar com a falta de felicidade. Acorremos, então, com todo
tipo de soluções, drogas, placebos e sedação à dor. Queremos, acima de tudo, não
enfrentar a inevitável condição de existir.

Se reclamamos tanto da falta da felicidade é porque acreditamos que não basta
existir se não houver algo que justifique, marque, recompense, motive uma vida. A
empreitada coletiva da humanidade já não é um propósito de fácil apreensão. Sem
ilusões coletivas, resta o que cada um pode arrancar de sua passagem pela terra e a
palavra que sintetiza esta expectativa é: felicidade.

O papel da psicanálise sempre foi o de escutar o que se impõe sintomaticamente
em uma época. Foi assim que deu voz às mulheres no século passado. Agora, a tarefa é
escutar a tristeza, a melancolia e a depressão, em suas aproximações e diferenças, para
que isso faça efeitos naquele que fala e naquele que escuta. A clínica dessas patologias
nos leva a pensar sobre o suicídio, a dor, a culpa, o infantil, as toxicomanias, uma
direção da cura através da sublimação e outros pontos relacionados com essa problem
ática, a qual, acreditamos, tem tanto a dizer."

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Estranhos desejos ...


O bom senso, que normalmente pensa mal, associa a compra
boa e feliz a quando alguém adquire o que lhe é necessário, em especial, se pertencer à trinca das necessidades humanas fundamentais: saúde, educação e moradia.
Essa fórmula do politicamente correto funciona ao nível da necessidade, mas nem sempre ao nível do desejo.

Desejar é ter um desejo sempre de outra coisa, afirmava Jacques Lacan. Os exemplos chocam: para terror da patroa, sua cozinheira comprou uma boneca de presente de natal para sua filha, empenhando a própria bicicleta. Para desespero da esposa, seu marido pagou cinqüenta mil dólares no carrinho de brinquedo que faltava à sua coleção.

As condições de escolha de um objeto, como também de uma pessoa são sempre muito estranhas aos olhos dos outros; é o que fez Fernando Pessoa escrever que todas as cartas de amor são ridículas.

Felicidade não tem preço, diz a sabedoria popular, não no sentido de ser muito cara, mas de que não é “precificável”, de que nunca se acha o justo valor. Os objetos da pura necessidade, espera-se que sejam gratuitos, pois se nos puseram nesse mundo, que nos cuidem, ensinem e abriguem; já os objetos de desejo, que cada um responda.


(adaptações Jorge Forbes, 2008).

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Construção em análise

"A busca do sentido se dá na linguagem, através do funcionamento simbólico
de substituição metafórica e deslizamento metonímico, conjugado ao
gozo imaginário da compreensão e do auto-conhecimento. Essa prática tende a
alienar perigosamente o sujeito do objeto real que o causa, e provoca interpretações
que tendem ao pior, pois não implicam o sujeito no seu sofrimento.

Mais uma vez, compete ao analista dirigir a busca do efeito de sentido,
para que o analisante construa em palavras o fantasma que o faz abjeto. Sem
o que as análises se dirigem a um pântano, onde nenhum terreno é conquistado
aos mares pulsionais, isto é, onde não se verifica a construção de dique de
proteção aos açoites do real.[...]" (Elaine Starosta Foguel)

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Dúvida e angútia

"Cada vez que há dúvida e angústia, é porque há, camuflado, em desejo que procura manifestar-se tendo em vista um complemento." (DOLTO)

quinta-feira, 14 de maio de 2009


"[...] Solidão de adulto é solidão remanescente de criança.[...} Quando uma coisa não vai bem no adulto, é preciso remontar as raízes da infância. O adulto não sofre de solidão se não tiver sofrido de solidão na infância." (DOLTO, 1998)

sábado, 9 de maio de 2009

Amar se aprende sendo amado

"Amar se aprende sendo amado"

Sem as histórias de amor, a modernidade não teria acontecido.
O sujeito moderno precisa de ficções, ele tem a tarefa de se reinventar. O amor é o tema que anima, que produz desde o primeirissimo começo, pruduz o repertório das ficções que são o nosso modo de uso para viver.
Contardo Calligaris

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Sociedade de consumo


A sociedade de consumo se caracteriza por ser organizada predominantemente pelas relações de consumo e valores associados, condicionando a produção de bens e serviços. O consumidor, elevado ao status de cidadão de direito, através da recente elaboração dos direitos do consumidor, tem como ideal de vida preponderante sua potência de consumo. O sucesso social e a felicidade pessoal são identificados pelo nível de consumo que o indivíduo tem. O somos o que temos é elevado à condição de ideal social: o hedonismo materialista, a qualquer preço, triunfa. Se não temos, não somos. O potencial de consumo determina o grau de inclusão ou de exclusão social, de sucesso ou de insucesso, de felicidade ou de infelicidade.[...]"

Jaime Albreto Betts


quinta-feira, 7 de maio de 2009

Masculino e Feminino


"Quando se diz que os conceitos de masculinidade e feminilidade se
definem um em relação ao outro, é necessário observar que essa relação não
é de complementaridade. Ou seja, um não completa ao outro. Definem-se um
em relação ao outro de forma moebiana, ou seja, entre eles se escreve uma
falta. Masculino e feminino são suplementares, pois entre eles sempre falta algo."
Jaime Betts

sábado, 2 de maio de 2009

As pessoas não sabem mais o que fazer com o seu desejo, transformam - no então em necessidade de alguma coisa repetitiva que as ocupe durante o ócio, que as ocupe com representações mentais. (DOLTO, 1998)

quarta-feira, 29 de abril de 2009

" O desejo é uma relação de ser com a falta. Esta falta é falta de ser, propriamente falando. Não é falta disso ou daquilo, porém falta de ser, através do que o ser existe. O ser se põe a existir em função mesmo desta falta". (LACAN, 1954)

segunda-feira, 27 de abril de 2009

"O corte analítico é para que aquele que fala se ouça".

quinta-feira, 23 de abril de 2009

"Assim que um ser é consciente, ele é palco de contradições, em especial entre o desejo de conservar-se e o de alcançar a uma expressão mais total de si mesmo." (DOLTO, 2007)

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Metafísica do Amor


(...) não são exatamente as belezas regulares,
perfeitas que costumam acender as grandes paixões.
Para que nasça uma tal inclinação realmente apaixonada exige-se algo que só se deixa expressar mediante uma metáfora química: ambas as pessoas têm de se neutralizar mutuamente, como ácido e álcali num sal neutro.

Para a neutralização mútua de duas individualidades que está em pauta exige-se que o grau determinado de masculinidade do homem corresponda exatamente ao grau determinado de feminilidade da mulher. Assim, o homem mais masculino procurará a mulher mais feminina e vice versa, e justamente desse modo cada indivíduo procurará quem lhe corresponda no grau de sexualidade. Como se dá a proporção exigida entre dois indivíduos, isso é algo sentido instintivamente por eles.
(Livro: Metafísica do Amor. Schopenhauer, A.)

Como fica forte uma pessoa quando está segura de ser amada!
Sigmund Freud

sábado, 18 de abril de 2009

O olhar ...

“Se alguém me cativa com seu olhar, não é simplesmente por um olhar com uma certa expressão nos olhos, é por esse raio de luz que vai até o olho dele e vem dos dele para mim. (...) que alguém me olhe, implica que se marque esse tipo de brilho. (...) é preciso que essa luz se reflita como um ponto brilhante na superfície da córnea. Esse Outro é essa superfície corneal. Sem luz não haveria olhar” (Nasio, 1995)

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Psicanalista


O Psicanalista não é um orientador, no sentido de conselheiro. É aquele que possibilita que cada um daqueles que o consultam seja capaz de assumir o reconhecimento de seu próprio desejo no tocante a tudo o que deseja, e aprenda a resolver por si só seus conflitos.
Dolto, 2007
"A energia que a pessoa gasta para lutar contra seus pretensos defeitos é initilizável para para desenvolver como qualidades como qualidades o que na sua natureza particular continha." (Dolto, 2007)

quinta-feira, 16 de abril de 2009

"[...] impasse feminino, hoje, que reduplica o impasse de toda mulher em nossa sociedade, qual seja, o de se fazer por si mesma, o de não poder depender de um homem – herança do ideal feminista – ao mesmo tempo em que também deseja estabelecer uma relação na qual o homem ocupe um lugar especial. Na cultura do individualismo, ser autonômo é prescindir de qualquer outro." (RAMALHO, 2005)
"Não somos apenas o que pensamos ser. Somos mais; somos também, o que lembramos e aquilo de que nos esquecemos. Somos as palavras que trocamos, os enganos que cometemos, os impulsos a que cedemos, "sem querer". (FREUD, S.)

quarta-feira, 15 de abril de 2009

“ A Psicanálise é, em essência, uma cura pelo amor.”

Freud, numa carta a Jung

Angústia


"A angústia tem sido apontada como responsável por um sem número de “males” físicos e psíquicos que acometem o homem moderno. Também tem sido considerada tributária do estilo de vida contemporâneo, notadamente caracterizado pela contração temporal, perda da referência à tradição, queda das ideologias e relativização da verdade.

Teorias não excludentes – importante frisar – e que permitem conceber a angústia como constitutiva do sujeito. Enquanto falante, ele surge dividido entre o ser e o Outro da linguagem, sob a forma de significante. O que resta como irrepresentável dessa operação de corte – nomeado por Lacan de objeto a – é o que doravante mediará a dialética do sujeito com o Outro como causa de desejo, inscrevendo-se como perdido no fantasma originário. Daí a emergência da angústia estar condicionada ao reencontro do objeto irremediavelmente perdido.

Bem, a vida é prenhe de objetos perdidos; eles estão por toda parte. Prova disso são as chamadas crises evolutivas – ou, como preferimos, momentos de passagem: adolescência, maternidade, vestibular, separações. Não há quem os atravesse sem boa dose de angústia. Ocasiões em que o sujeito não mais se reconhece no traço significante do desejo do Outro, que até então o representava. Contextos em que a demanda endereçada ao sujeito o interpela, a mostrar que ele é quando ainda não tem condições de sê-lo. Ter de fazer a aparência, como o faz um ator em cena, pode ser algo extremamente angustiante quando se trata da vida real. Sem um roteiro que o oriente, o sujeito desconhece a persona que o Outro vê nele. E se o Outro fosse uma louva-a-deus gigante, como brinca Lacan? Sabemos o que ela faz com seu parceiro no final do encontro.


A angústia é um alerta de que, se não controlarmos por completo o que o Outro vê em nós, arriscamos a perder a cabeça. Tarefa impossível, diga-se de passagem, pois mesmo a mais extensa cadeia significante nunca será suficiente para cobrir o discurso do Outro."

Trechos da Revista Angústia - APPOA. Edição 33

domingo, 12 de abril de 2009

O tempo e as palavras ...

"Pedir um tempo" é uma expressão que se popularizou entre os namorados, ou melhor, entre um que continua enamorado e outro que deixou de estar ... não está mais, mas já esteve. Então como terminar? Como falar? Como romper, quando existe uma série de sentimentos envolvidos? Então para não magoar muito, se pede um tempo. Um tempo para pensar a relação, arejar a cabeça, ver se é possível reinvestir, ou se o jeito é cair fora mesmo. Trata-se de um tempo para dar conta de um afastamento ou de uma separação.
As vezes parece que os órgãos responsáveis pela fala encontram-se ocos para algumas situações, quem sabe para algumas palavras.
Quer dizer então que as palavras podem doer e que a dor pode impedir as palavras, que existem palavras que machucam e que ficamos machucados por ausência de palavras?
(Texto adaptado de Rosane Licht. Revista da Associação Psicanalítica de Curitiba. Vol 1, 1997, p.101).

sábado, 11 de abril de 2009


"Todas as separações são dolorosas. O sofrimento é inevitável, mas é também por menos infelicidade e por menos sofrimento inúteis que os seres humanos trabalham quando se dá que o desejo deles tenha tomado seu sentido desejante, por mais impotente que cada um seja em sua individuação, sofrimento contido no conjunto dos outros desejantes.

É o sofrimento nascido das separações primeiras - nascimento, desmame, ... - que constitui a individuação progressivamente adquirida do corpo da criança que, em seus limites táteis, se descobre criatura única e separada.

Livro: Solidão, Françoise Dolto - 1998.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

DE REPENTE, UM TAPA ... Apaixonados, desconfiem de si mesmos.

Um tapa, quando viu, era tarde demais. Não existem desculpas, pois o tapa não é fruto de uma má intenção, de um erro de cálculo, nem mesmo do prosaico mau humor. Um tapa não intencional, foge à razão, ele é explosão afetiva que marca o impossível de toda relação.

Michelangelo, ao enfrentar a mudez de seu Moisés: - “Fala! Por que você, estátua tão perfeita, não fala?”.

Que solidão do incompreensível sofrem os que se amam!

Temos que aprender a desconfiar de nós mesmos, o que seria muito melhor que essa febre perniciosa de auto-ajuda e de reforço de auto-estima. Desconfiemos, saibamos que em todos nós habita um Michelangelo, conforme o talento, mas de semelhante princípio: todos, sim, todos podemos agredir quem gostamos muito, por querer que o amor não deixe brecha, nem mal-entendido.

Melhor que desculpas, a responsabilidade. Melhor dizer às Sofias, errei, errei em ficar muito confiante de meu amor por você, que isso só te protegeria. Errei por não ter desconfiado de mim mesmo, de quanto me é difícil saber que o meu amor não é meu, que me ultrapassa, errei por me esquecer da angústia de Michelangelo, ao ver Moisés; um por do sol, uma cachoeira, um beijo: - Por que não falam?

Amar muito alguém não é garantia de segurança do amado.Todos nós conhecemos o que é um sentimento incontrolável, mas o descontrole nunca pode durar mais que o tempo de um tapa.


( Adaptações do artigo publicado na revista WELCOME Congonhas, julho de 2008 - ano 2 - número 16. FORBES, Jorge)

quinta-feira, 9 de abril de 2009

A MULHER E O FEMININO - II

"A mulher é algo que se constrói como um gênero a partir de uma diferença que é dada no corpo e que depois pode ser reinterpretada de várias maneiras: orientação sexual, masculinidade na mulher[...]."(MARIA RITA KEHL)

"A feminilidade é uma construção imaginária que produz praticamente um estilo – reconhecido como próprio das mulheres – e que já foi muito mais fechado do que agoraA mulher é mais adequada à posição feminina? Sim, mas só em um pequeno ponto. [...] Ela é adequada no sentido de poder ocupar melhor essa posição sem tanto conflito para ela mesma, e brinquei chamando isso de a “mínima diferença”. Pensamos na diferença dos sexos, cada sociedade a constrói de um jeito e a psicanálise fica tentando manter um discurso que naturalize essa diferença, como se a castração estivesse no corpo da mulher etc. "(MARIA RITA KEHL)

quarta-feira, 8 de abril de 2009

A MULHER


O QUE QUER UMA MULHER? - pergunta clássica que Freud se fazia.

No livro o que que uma mulher? O psicanalista Serge André continua com essa dúvida, como comenta Ciscato, 'é impossível desmascarara mulher porque nada nela pode er atingido além da máscara, para além dos artifícios, uma vez que para além da máscara há esse elemento eterno e impossível de ser significado.'

no final de sua obra Freud expõe que "Se desejaram saber mais a respeito da feminilidade, indageum a própria experiência de vida dos senhores, ou consultem os poetas [...]."

HOMENS E MULHERES ...

"As mulheres são basicamente insatisfeitas, o que é o mesmo que dizer que são basicamente desejantes. Satisfeitos não desejam, para quê?Elas são basicamente insatisfeitas por apontarem uma satisfação possível no que ainda virá, no amanhã. Dizê-las sonhadoras vem daí, desse olhar esperançado para um mais além.
Mulheres se satisfazem na diferença, no detalhe. Homens gostam da ordem unida, do grupo, da massa. Mulheres, não, elas não querem encontrar um vestido igual ao seu. Homens adoram o uniforme no trabalho: terno e gravata, ou o macacão; e uniforme nas festas: o smoking preto e branco, ainda por cima alugado.
Mulheres têm sempre muito a escolher, por não serem padronizadas, e como escolher sem a certeza garantida? Surge o desarvoramento, sentimento feminino por excelência.Mulheres insatisfeitas, de desejo insatisfeito, querem novidade, mudança; homens satisfeitos, de desejo impossível, querem o mesmo, a segurança da repetição". (FORBES, 2005)

terça-feira, 7 de abril de 2009

"Nosso papel como psicanalista, não é o de desejar algo para alguém. Mas ser aquele, graças a quem o sujeito pode chegar até o seu desejo". (DOLTO)
"... o gozo feminino escapa a representação; nisto consiste seu mistério, tanto para o sujeito que goza quanto para o que se vê excluído dele." (Maria Rita Kehl, 2008)

"sentem palpitar no seio um coração que pela força e pela altives de seus movimetos, é superior a tudo o que as cerca[...].''

"Uma felicidade das mulheres é que as provas desta coragem permaneçam sempre secretas e sejam quase impossíveis de se divulgar. Uma infelicidade ainda maior é que ela seja empregada contra sua felicidade."

Livro: Deslocamentos do feminino - Maria Rita Kehl